Contornos - Educação e Pesquisa: pesquisa científica
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12 fevereiro 2024

Como começar uma revisão bibliográfica ou sistemática

Sabemos que em uma pesquisa acadêmica é necessário realizar uma revisão de literatura sobre o tema que envolve o objeto de pesquisa. Em um artigo sobre as causas do plágio em trabalhos acadêmicos, tratei sobre a importância da pesquisa na construção de um trabalho, ainda que simples, para que “tenhamos o que dizer” nos trabalhos que apresentamos. (Veja em: Plágio em trabalhos e relatórios: é preciso entender o que é pesquisa). No entanto, o que é e como fazer uma pesquisa bibliográfica? Por onde começar e como buscar as bases teóricas de uma pesquisa? E o que é uma revisão sistemática?

Primeiramente é preciso destacar que o processo de pesquisa não é linear, apesar de poder ser sistematizado. Trata-se de um vai e vem na medida em que se lê, experimenta visões e entra em confronto com ideias diversas. A definição do objeto fica mais amadurecida depois de algumas leituras, sendo que parte dessas serão bases para se aprofundar e outras são descartadas ao longo do caminho.

Severino (2007) distingue 3 fases do amadurecimento de um trabalho: (1) a fase da invenção, da descoberta e da formulação de hipóteses; (2) a pesquisa em si, podendo ser experimental, de campo e/ou bibliográfica e (3) a formulação amadurecida com o levantamento de fontes e documentos. Assim, há um percurso de exploração, leitura e amadurecimento da proposta e das percepções do pesquisador-autor, para daí se produzir um trabalho acadêmico.

As pesquisas acadêmicas são também pesquisas bibliográficas, pois sempre retomam as bases do tema a ser tratado. Algumas são apenas bibliográficas e outras e realizam também a pesquisa empírica, com dados construídos em trabalho de campo. De acordo com Severino (2007)

A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível de pesquisas anteriores em documentos impressos como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes nos textos (p.122).

A escolha sobre as fontes da pesquisa bibliográfica vai depender de um conhecimento básico sobre o tema e seus fundamentos, de autores clássicos até os mais atuais. Muitas vezes o/a professor/a orientador/a traz algumas sugestões, mas cabe ao estudante também buscar as bases do tema (se já não o conhecer) em planos de ensino das disciplinas relacionadas e referências de trabalhos estudados. O nível de aprofundamento depende do tipo de pesquisa que está sendo realizada (artigo, TCC, dissertação ou tese).

Já em uma pesquisa bibliográfica sistemática, revisão sistemática ou metapesquisa utiliza de palavras-chave e busca de trabalhos em bases de dados, com recortes e filtros como período de publicação, área de estudos, entre outros. Pode haver diferenças procedimentais em cada uma das nomenclaturas e abordagens conforme os autores, mas basicamente apresentam o uso de palavras-chave para busca em bancos de dados e critérios de exigibilidade , ou seja, o que seja incluído ou não na lista de estudos a serem lidos. Essa busca pode ser realizada tanto em bibliotecas quanto em bases de dados digitais (ver exemplos mais adiante).

A leitura dos estudos de revisão sistemática é guiada por perguntas pré definidas que são feitas para cada estudo, conforme o problema de pesquisa. Por exemplo, em um artigo que foi publicado em 2015, realizei uma pesquisa sistemática sobre o que outros estudos dizem sobre a formação de professores para a gestão democrática na escola. Com as leituras, foram formadas categorias a partir dos achados, que depois foram sistematizadas em anotações e arquivos.

No exemplo, realizamos um levantamento junto ao Banco de Teses e Dissertações Capes das produções referentes aos anos de 2011 e 2012. Observamos que, nesse período, foram defendidas 25 dissertações e 4 teses com os termos gestão democrática da educação, gestão escolar democrática e gestão democrática na escola. A intenção era verificar, inicialmente, através dos resumos, os temas e objetos investigados nas pesquisas, além de seus resultados, buscando compreender as tendências na efetivação da gestão democrática na escola. 
 
Apenas com a leitura dos resumos dessa amostra foi possível perceber que nenhum dos trabalhos abordava a relação entre formação inicial de professores e gestão escolar democrática, o que nos trouxe um dado importante para mais questões de pesquisa e aprofundamento. No trabalho completo é possível ver como trabalhamos com a revisão sistemática para entender os caminhos das pesquisas sobre gestão democrática na escola: A gestão escolar democrática na formação inicial do professor: elementos teóricos para pensar a formação política do professor da educação básica

Algumas bases de dados digitais de material bibliográfico mais comuns no Brasil:
  • SciELO - Brasil - É um portal que reúne acesso aos principais periódicos científicos do país, organizados por temas e áreas de conhecimento.
  • LILACS - bvsalud.org - Um abrangente índice da literatura científica e técnica da América Latina e Caribe.
  • Portal de Periódicos da CAPES - Uma plataforma digital que oferece acesso a uma vasta gama de periódicos científicos, artigos, revistas, e outras fontes de informação acadêmica. Desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
  • Catálogo de Teses & Dissertações - CAPES - Trata-se de um repositório de dissertações e teses defendidas em universidades brasileiras s, também desenvolvido pela CAPES.

A biblioteca da UDESC elaborou um material informativo sobre revisão sistemática, um guia para quem quer se aprofundar nessa metodologia de pesquisa. Veja em: https://www.udesc.br/bu/manuais/rsl

Existe outro tipo de pesquisa que pode se confundir com a pesquisa bibliográfica que é a pesquisa documental. Trata-se de uma outra metodologia que envolve práticas próprias. Sobre a pesquisa documental, veja este outro artigo: Pesquisa Documental: utilização e abordagens metodológicas

Enfim, muito se poderia falar sobre pesquisa bibliográfica e sistemática, no entanto, o objetivo aqui é aproximar ou reaproximar as pessoas dos procedimentos de pesquisa acadêmica e mais leituras podem ser necessárias para o aprofundamento da compreensão.


Referência:

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23.ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007.

04 fevereiro 2024

Como referenciar figuras e imagens (II) - Imagens geradas por IA

A citação de figuras e imagens geradas por inteligência artificial (IA) em trabalhos acadêmicos segue as mesmas diretrizes básicas de citação para qualquer outra imagem (ver Como referenciar figuras e imagens). No entanto, ainda que o comando seja executado por você, é importante reconhecer que as figuras e imagens geradas por IA são criadas por uma ferramenta específica e podem existir diferenças e particularidades entre essas ferramentas, sendo, portanto, essencial mencioná-las.

Ao utilizar essas imagens, é fundamental destacar as considerações éticas associadas ao uso de IA. Mesmo em uma apresentação de slides, o rigor deve ser o mesmo de um trabalho escrito. O quanto essa imagem é importante para o seu trabalho? A imagem “cabe” para o contexto? Há alguma imagem “real” que possa substituí-la? Estou sendo transparente quanto às informações da imagem? São algumas perguntas a se fazer quando utilizar imagens criadas por IA.


Aqui estão algumas orientações gerais para as referências de figuras ou imagens geradas por IA ou algoritmos em geral:

No título da figura:

Inclua informações sobre a descrição da imagem. Por exemplo, "Figura 2: representação de um pesquisador em trabalho de campo."


Na legenda da figura:

Inclua informações detalhadas sobre a ferramenta de IA ou o algoritmo utilizado. Por exemplo, "Fonte: gerado por [Nome da Ferramenta de IA] em dd/mm/aaaa."


No texto:

Mencione a autoria como "imagem gerada por [Nome da Ferramenta de IA]" ou "Figura gerada por algoritmo de inteligência artificial."


Exemplo:

Figura 1: Representação de uma cientista utilizando mecanismos de inteligência artificial.
.
Fonte: gerada por IA. Plataforma DALL·E 3. Em 2 de fevereiro de 2024.


Lembre-se de consultar as diretrizes de citação do estilo escolhido para garantir que você esteja seguindo todas as regras específicas dessas normas. Além disso, se a ferramenta de IA ou o algoritmo usado tiver um artigo ou documentação oficial, você pode incluir essa fonte na lista de referências para fornecer mais contexto sobre como a IA foi treinada e desenvolvida.

O uso de inteligência artificial em trabalhos acadêmicos é um tema que ainda estamos compreendendo e, por enquanto, essas indicações seguem princípios gerais de uma pesquisa científica como transparência, rigor, coerência e confiabilidade. É possível que algumas diretrizes mudem com o tempo e desenvolvimento de nossa compreensão, assim, atente à data de publicação e atualizações desta postagem. ;)

13 janeiro 2021

Como elaborar referências de livros eletrônicos (e-books)

Leitor de e-book

Muitas pessoas têm aderido ao uso de leitores de livros eletrônicos (e-book) como Kindle, Kobo e outros. Esses suportes para leitura são visualmente mais adequados do que o celular ou o tablet, entre vários outros benefícios para leitores assíduos.

No entanto, o sistema de paginação de um ebook pode ser muito diferente de um livro impresso ou até mesmo dos arquivos de texto mais comuns. Como o texto é flexível, pode ser aumentado, diminuído, fontes e espaçamentos diferentes podem ser configurados, assim, não há páginas fixas. Em geral, os e-books utilizam a unidade posição para marcar o local do livro. 

De acordo com Ferreira (2013), cada posição representa um grupo de 128 bytes de dados, o equivalente a aproximadamente 128 letras. Em algumas edições, há uma opção de verificar a correspondência com a página da edição impressa, porém, nem todos os livros eletrônicos têm uma versão impressa e nenhum deles deveria ser considerado o mais correto, uma vez que são suportes diferentes para o mesmo conteúdo.

A ABNT, na NBR 6023 (2018), ainda que tenha sido atualizada recentemente, ainda não cita os e-books de forma clara. Os trechos que mencionam a indicação de páginas são genéricos sobre o que fazer em casos não previstos, como e-books sem paginação convencional. No entanto, a partir das indicações, podemos construir um formato.

8.7.3 Documento em meio eletrônico
Recomenda-se indicar o tipo de suporte ou meio eletrônico em que o documento está disponível. Para redes sociais, especificar o nome da rede e o perfil ou página acessados, separados por dois pontos. Para os demais documentos, seguir o descrito em 8.7.1. (ABNT, 2018, p. 54)

No caso de e-books, não haverá uma referência com endereço eletrônico, uma vez que os livros são arquivos localizados na memória do suporte. A referência final é de um livro ou artigo como as publicações impressas, com a indicação de que se trata de uma edição em e-book.

➡ Exemplo: Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions, 4ª ed. Chicago e London: The University of Chicago Press, 2012, edição Kindle, cap. IX.

No item sobre as unidades físicas, há mais informações que ajudam a pensar na formação da referência para o formato e-book

8.7.1 Unidades físicas
A quantidade total das unidades físicas referenciadas deve ser registrada na forma indicada no documento, seguida da sua designação específica, abreviada quando possível, e separada por vírgula quando houver mais de uma sequência. Se necessário informar detalhe do documento, indicá-lo entre parênteses. (ABNT, 2018, p. 52)

Assim, se a forma de apresentação do e-book for em "posição", indicar essa unidade na referência (no caso de citação direta, que é quando devemos expor o local específico da citação).

Exemplo:
Resolvi tomar uma media e comprar um pão. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, aves tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. (JESUS, 2014, posição 644)

Nas referências finais/completas:

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo – diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014. Livro eletrônico. 3157 posições.


⚠ Se você estiver escrevendo um texto acadêmico que vai ser apreciado por uma banca, converse com sua orientação e decida se vocês irão utilizar as edições em livro eletrônico nas citações ou se seria o caso de verificar a paginação em um livro físico. Isso pois os e-books podem não ser familiares a todas as pessoas envolvidas, embora seja um suporte tão legítimo para o conteúdo quanto um livro físico.

Compartilhe as suas dúvidas e experiências sobre o tema nos comentários. ;)


Referências:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6023: Informação e documentação: Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2018. 74 p.

FERREIRA, Cris. Entenda como funciona a contagem de páginas nos ebooks. Vida sem papel, 2013. Disponível em: https://www.vidasempapel.com.br/paginas-nos-ebooks/. Acesso em: 10/01/2021.
 
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14 janeiro 2019

O que fazer quando a autoria é desconhecida?

Embora seja pouco comum (e recomendável), por vezes há a necessidade de citar e referenciar um material com autoria desconhecida. É importante destacar que a autoria é desconhecida, o que não significa que não exista autoria. Um texto sempre terá um/a autor/a, podendo ser autoria coletiva ou em nome de instituições.


Quando não encontramos a autoria do texto, primeiramente devemos pesquisar sobre a publicação em outros locais, buscar o dado de forma mais ampla. Caso ainda assim não o encontre, questionar-se sobre a confiabilidade dessa fonte e se é realmente importante para o trabalho. Se a resposta a essa última questão foi positiva, a ABNT 6023 indica uma alternativa para referenciar o material:

8.1.3 Autoria desconhecida
Em caso de autoria desconhecida, a entrada é feita pelo título. O termo anônimo não deve ser usado em substituição ao nome do autor desconhecido.
Exemplo: DIAGNÓSTICO do setor editorial brasileiro. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 1993. 64 p.

Assim, colocamos a primeira palavra do título em caixa alta e as seguintes normais, sem utilizar negrito. Veja bem, não é mesmo o caso de legislações, pois o autor dessas é a unidade administrativa ou a instituição responsável.

Exemplos:
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS). Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Resolução Nº 04/2004. Diretrizes para o Plano Pedagógico das Licenciaturas da UFRGS. Disponível em: http://www.ufrgs.br/cepe/legislacao/Res04-04.htm

Lembre-se de considerar a palavra seguinte ao colocar em maiúsculas se o título iniciar com artigo definido, indefinido ou palavra monossílaba.

Exemplo:
A ÉTICA nas universidades brasileiras...
Por fim, tente incluir mais informações que conseguir sobre a publicação a fim de que outros elementos possam ajudar a entender a fonte, pois a ausência de autoria é um ponto de atenção para a confiabilidade da fonte.

Obs.: As mudanças na ABNT 6023 de 14 de novembro de 2018 não alteraram esse item.

Referência:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6023: Informação e documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

05 janeiro 2019

O que é citar e referenciar?

É comum utilizarmos os termos citar e referenciar em redações e comunicações científicas, porém nem sempre é claro para quem está iniciando o que são essas ações.

De acordo com o Dicionário Priberam, os dois vocábulos são sinônimos de mencionar e referir. No entanto, em pesquisa, de forma prática, consideramos cada palavra para uma ação diferente.

Citar: é transcrever os textos/falas de autores de forma literal ou parafraseada ao longo do texto. (= CITAÇÃO).
Exemplo:
Conforme Dussel (1993, p. 35), “A América não é descoberta como algo que resiste distinta, como o Outro, mas como a matéria onde é projetado o 'si mesmo'.”
Referenciar: é associar a citação aos seus dados de registro (especialmente autor e data). Cada citação demanda duas referências:

1) Ao longo do texto, logo após trecho transcrito/parafraseado, no sistema autor-data. 

Exemplo: (DUSSEL, 1993, p. 35)

2) No final do trabalho, na lista de referências. 

Exemplo: DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro – a origem do mito da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993.

Veja mais em Citações: para quê servem? Como utilizar e formatar referências no corpo do trabalho

Dúvidas? Escreva nos comentários. ;)

Por: ShellyS Fonte: https://www.flickr.com/photos/shellysblogger/


07 junho 2017

Plágio em trabalhos e relatórios: é preciso entender o que é pesquisa

Nos últimos anos tive a oportunidade de acompanhar vários alunos em processo de pesquisa e percebi que muitos não têm plena consciência de que o que estão fazendo é plágio. É fato que não se pode alegar simples desconhecimento, porém esse equívoco geralmente decorre da falta de preparo sobre o que é o processo de pesquisa. Infelizmente no Brasil não é comum que tenhamos a pesquisa como princípio educativo na educação básica. A maior parte das pessoas vai ter acesso ao que é uma pesquisa só na universidade (o que também foi o meu caso e contribuiu para muitos tropeços). Há iniciativas nesse sentido, inclusive de redes públicas de ensino, porém há um longo caminho de investimento.

Assim, o que temos atualmente é uma grande quantidade de pessoas acostumadas com o sistema de transcrição de trechos de enciclopédias ou revistas para a realização de trabalhos escolares e muitas outras que já nasceram na era digital, mas que seguem o mesmo princípio de transcrição, só que sem nem ao menos escrever. Com a facilidade das buscas por textos em ambientes virtuais, a prática de transcrição agora é reduzida ao famoso copiar e colar. Em muitos casos, as pessoas modificam apenas algumas palavras do texto e a partir daí o tratam como um texto “seu”.

Vejo que instituições de ensino muitas vezes enviam alertas sérios sobre o problema do plágio nos trabalhos (hoje facilmente identificáveis com softwares) mas pouco se dedicam a educar sobre o que é plágio. Talvez não seja algo tão bem entendido como se imagina.

Veja a cartilha produzida por uma comissão especializada em avaliação de autoria da UFF (Universidade Federal Fluminense) com explicação e exemplos de plágio. Atenção para os três tipos: integral, parcial e conceitual. Apenas o primeiro tipo se trata de cópia palavra por palavra. 

cartilha plágio
"Print" da primeira página da cartilha (UFF, 2010)
http://www.noticias.uff.br/arquivos/cartilha-sobre-plagio-academico.pdf

Para entender o que é plágio, é preciso entender: o que é pesquisar? Ao refletir sobre o que consiste o ato de pesquisar, o plágio tende a ficar mais evidente e evitável.

Pesquisar é um processo, não se faz na noite do último dia de prazo. Para ter o que escrever, será necessário ler, realmente conhecer o que foi publicado sobre o tema tratado. Aliás, dificilmente haverá um problema de pesquisa bem definido sem leitura, pois a leitura auxilia na percepção de lacunas que se pode examinar com a pesquisa.

13 fevereiro 2016

Resumos de trabalhos acadêmicos (NBR 6028)

Por definição, resumir é abreviar, sintetizar, condensar, enfim, reduzir a menores proporções. Contudo, metodologicamente, essa atividade não é tão simples quanto parece e requer a observação de alguns pontos. No Brasil, a NBR 6028 (2003) estabelece requisitos para a apresentação de resumos. Entretanto, também há controvérsias. 

Segundo a norma, o resumo deve ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do documento. Muito importante observar esses quatro momentos do resumo. Como é possível observar, a bibliografia utilizada no trabalho não é recomendada para o resumo, por isso, particularmente indico que autores não sejam mencionados, a não ser que a pesquisa tenha utilizado um autor de forma bastante significativa (geralmente em teses de doutorado).

A norma estabelece que o resumo seja composto de uma sequência de frases concisas, afirmativas e não de enumeração de tópicos. Recomenda que a primeira frase já apresente o tema principal do documento e que se utilize parágrafo único.

A NBR 6028 coloca que “deve-se usar o verbo na voz ativa e na terceira pessoa do singular”, o que é uma grande controvérsia no meio acadêmico. Cientistas de diversas áreas (mas especialmente das Ciências Humanas) defendem a utilização da primeira pessoa do singular ou do plural em textos acadêmicos. Esse tema, entretanto, remete à questões mais profundas sobre a prática da pesquisa e merece maior aprofundamento em outro texto. Contudo, já está bastante disseminado e aceito o uso da primeira pessoa em textos acadêmicos. A minha sugestão é que você converse com o/a orientador/a e utilize o que sentir que seja mais adequado, desde que saiba justificar essa escolha.

Quanto à extensão, a norma assinala de 150 a 500 palavras para resumos de trabalhos acadêmicos (teses, dissertações e outros) e relatórios técnico-cientifícos e de 100 a 250 palavras os de artigos de periódicos, entretanto, a respeito dos artigos de periódicos, atualmente cada periódico tem estabelecido suas normas e formatos para publicação. Assim, o recomendável nesse caso é consultar a norma da revista.

Palavras-chave

A NBR 6028 define palavra-chave como “palavra representativa do conteúdo do documento, escolhida, preferencialmente, em vocabulário controlado”. A respeito do que se chama de vocabulário controlado, a escolha de palavras é livre, porém, se você quer que o seu trabalho seja mais facilmente encontrado na internet e em bibliotecas, especialmente por pesquisadores de sua área e estudantes buscando referências, procure palavras representativas de sua pesquisa dentro da área de enfoque.

Uma forma de conhecer as palavras mais utilizadas na área é observando as palavras-chave de suas referências e das referências de suas referências. Há ferramentas que auxiliam o pesquisador na escolha de palavras com busca por tema, descrição mais ampla do termo, entre outros. Em algumas revistas científicas, exige-se que as palavras estejam de acordo com dicionários de termos específicos da área. Em educação, por exemplo, utiliza-se o Thesaurus Brasileiro da Educação. Para a área da saúde, Descritores em Ciências da Saúde

A palavra-chave não precisa ser só uma palavra, pode ser uma expressão, por exemplo, “administração escolar”, “políticas públicas em educação” e “Programa Nacional Fortalecimento dos Conselhos Escolares”. Observe que, das palavras citadas, a primeira é mais ampla e a última mais específica (um programa específico, que seria foco do trabalho). Assim, também é importante pensar as palavras em ordem do mais abrangente para o mais específico.

*esta e outras postagens são dinâmicas, de tempos em tempos são revisadas e atualizadas por novas experiências e também com o auxílio de leitores. ;)
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: Informação e documentação - Resumo. Rio de Janeiro, 2003.

Como citar este texto
PEREIRA, Vanessa Souza. Resumos de trabalhos acadêmicos (NBR 6028). Contornos Educação e Pesquisa, Porto Alegre, 2016. Disponível em: <http://www.contornospesquisa.org/2016/02/resumos-de-trabalhos-academicos-nbr-6028.html>. Acesso em: dia/mês/ano.


04 setembro 2014

Exemplos de modelos de amostragem


Tradução livre de "Types Of Sampling Designs" By Ashley Crossman 

Ao realizar uma pesquisa, é quase sempre impossível estudar toda a população que você está interessado. Por exemplo, se você estivesse estudando opiniões políticas entre estudantes universitários no seu país, seria quase impossível fazer um levantamento com cada estudante universitário. Se você fosse fazer um levantamento de toda a população, seria extremamente demorado e caro. Assim sendo, os pesquisadores utilizam amostras como meio para colecionar dados.

Uma amostra é um subconjunto da população em estudo. Ela representa a população maior e é usada para fazer inferências sobre essa população. É uma técnica de pesquisa amplamente utilizada nas ciências sociais como uma forma de reunir informações sobre uma população, sem ter que medi-la em sua totalidade.

Existem vários tipos e formas de selecionar a amostra de uma população, do simples ao complexo.


Técnicas de amostragem não probabilística

Amostragem não probabilística é, basicamente, uma técnica de amostragem na qual as amostras são recolhidas em um processo que não dá todos os indivíduos da população as mesmas chances de ser selecionado.

Dependência de sujeitos disponíveis. Baseando-se em sujeitos disponíveis, tais como abordar pessoas em uma esquina quando elas passam, embora seja extremamente arriscado, trata-se de um método de amostragem. Este método, por vezes referido como uma amostra por conveniência, não permite que o pesquisador tenha qualquer controle sobre a representatividade da amostra. Ele só se justifica se o pesquisador quiser estudar as características das pessoas que passam por uma esquina em um determinado ponto no tempo ou se outros métodos de amostragem não forem possíveis. O pesquisador também deve tomar cuidado para não usar os resultados de uma amostra de conveniência de generalizar para a população em geral.

Amostra intencional. Uma amostra intencional é aquela cuja seleção é baseada no conhecimento sobre a população e o propósito do estudo. Por exemplo, se o pesquisador está estudando a natureza do espírito estudantil representado em um comício/protesto, ele ou ela pode entrevistar pessoas que não se sensibilizam com essa causa ou estudantes que nunca participaram de protestos. Nesse caso, o pesquisador está usando uma amostra intencional, pois a cada entrevistado caberá uma visão sobre o tema. [Nota da tradutora: a amostra intencional é muito comum em pesquisas qualitativas.]

Bola de neve. Um modelo bola de neve é apropriadamente utilizado em pesquisa quando os membros da população são difíceis de localizar, por exemplo: imigrantes sem visto de permanência no país. Em uma amostragem bola de neve, o pesquisador coleta dados sobre um pequeno número de membros da população alvo que consegue localizar e solicita a estes que o auxiliem a providenciar o contato com outros membros dessa população. Por exemplo, se o pesquisador quer entrevistar imigrantes de um país específico, pode iniciar buscando por pessoas que conhece e pedindo novos contatos de conterrâneos conhecidos a estes. Esse processo continua até que o pesquisador tenha todas as entrevistas que necessita ou até que todos os contatos tenham sido atingidos. [NT: também muito comum na pesquisa qualitativa]

Cotas. Amostragem por cotas é aquela na qual unidades são selecionadas com base em características já especificadas que condizem com a proporção da população total. Por exemplo, se você estiver conduzindo uma amostragem com base na distribuição da população do país, você provavelmente precisará saber qual a proporção de mulheres e homens, ou a proporção de homens e mulheres por grupo etário ou escolaridade. O pesquisador então deve selecionar unidades com as mesmas proporções da população nacional.

Técnicas de amostragem probabilística

A amostragem probabilística é uma técnica de amostragem na qual as amostras são recolhidas em um processo que dá todos os indivíduos da população as mesmas chances de ser selecionado.

Amostra aleatória simples. A amostragem aleatória simples é o método de amostragem básico assumido em cálculos e estatísticas. Para reunir uma amostra aleatória, é atribuído um número a cada unidade da população-alvo. Um conjunto de números aleatórios é gerado e as unidades que apresentares esses números serão incluídas na amostra. Por exemplo, digamos que você tenha uma população de 1000 pesoas e você gostaria de escolher uma amostra aleatória simples de 50 pessoas. Primeiro, cada pessoa é numerada de 1 até 1000. Então, você gera uma lista de 50 números aleatórios (normalmente com algum software) e os números desta lista serão os únicos que você incluirá na amostra.

Amostra sistemática. Na amostragem sistemática, os elementos da população são colocados em uma lista e cada xº elemento da lista é escolhido (sistematicamente) por inclusão na amostra. Por exemplo,se a população do estudo contém 2000 estudantes do ensino fundamental e o pesquisador quer uma amostra de 100 estudantes. Os estudantes poderiam ser colocados em uma lista e cada 20º estudante seria selecionado para inclusão na amostra. A fim de evitar o viés humano neste método, o pesquisador deve selecionar o primeiro elemento aleatoriamente. 

Amostra Estratificada. É um modelo de amostragem no qual o pesquisador dividiu toda a população-alvo em diferentes subgrupos, ou estratos, e então aleatoriamente seleciona os sujeitos finais proporcionalmente de diferentes estratos. Esse tipo de amostragem é usado quando o pesquisador quer realçar subgrupos específicos com a população. Por exemplo, para obter uma amostra estratificada de estudantes universitários, o pesquisador primeiro organizaria primeiro a população por semestre de graduação e então selecionar determinado número de representantes de calouros, pessoas que estão no meio do curso e formandos, por exemplo. Isso garante que o pesquisador tem quantidades adequadas de indivíduos de cada classe na amostra final.

Amostra por aglomerados. A amostragem por aglomerados deve ser utilizada quando é impossível ou impraticável compilar uma lista exaustiva dos elementos que compõem a população-alvo. Contudo, geralmente os elementos da população já estão agrupados em subpopulações e listas dessas subpopulações podem já existir ou ser criadas. Por exemplo, digamos que a população-alvo em um estudo seja membros de igrejas nos EUA. Não há uma lista de todos os membros de igrejas no país. O pesquisador poderia, nesse caso, criar uma lista de igrejas nos EUA, escolher uma amostra de igrejas e então obter listas de membros dessas igrejas.

Referência: Babbie, E. (2001). The Practice of Social Research: 9th Edition. Belmont, CA: Wadsworth Thomson.


01 junho 2014

A construção da metodologia na pesquisa social

Este artigo é um subcapítulo do trabalho: PEREIRA, Vanessa Souza. A emergência de novidades metodológicas no campo virtual: uma análise de estudos no ciberespaço. Trabalho de Conclusão de Curso - Bacharelado em Ciências Sociais - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2012.

Distinguindo-se do conhecimento comum, o conhecimento científico se concretiza na atividade de pesquisa, cuja fundamentação se dá através de teorias, conceitos, métodos e técnicas. A pesquisa constitui-se como atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. 

Uma pesquisa inicia com um problema articulado a conhecimentos anteriores, mas possíveis de demandar novos referenciais. Esses conhecimentos anteriores, construídos por outros estudiosos, são um sistema organizado de proposições e são chamados de teorias. Para Minayo (1994), as teorias são tentativas de aproximação e explicação (parcial) da realidade, contextualizadas e compostas de conceitos. A metodologia de pesquisa seria o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ela reúne as concepções teóricas da abordagem de um objeto, as técnicas de investigação, as quais encaminham os impasses teóricos para a prática, e o potencial criativo do pesquisador (MINAYO, 1994). Sobre o trabalho de campo, a autora defende que seja um recorte empírico da construção teórica e um momento prático de confirmação ou refutação das hipóteses e construção de teorias. 

A metodologia de pesquisa possui um sentido mais técnico dentro projeto científico, no qual se constituem regras para definir um objeto e as escolhas referentes ao trabalho de campo e aos instrumentos para investigação. Boudon e Bourricaud salientam que a atitude crítica do pesquisador na análise do objeto também constitui a ideia de metodologia de pesquisa:
Contrariamente a uma confusão corrente, essa noção [metodologia de pesquisa] designa, não só as técnicas de investigação empírica e da análise de dados, mas a atividade crítica que se aplica aos diversos produtos da pesquisa (BOUDON e BOURRICAUD, 2000a, p. 336).
Assim, podemos entender que a abordagem metodológica de um estudo científico visa sistematizar o modo como se estudará um objeto para alcançar os objetivos propostos. Essa atividade engloba aspectos que devem ser explicitados ao longo do trabalho científico: o tipo de estudo, qual será a população-alvo da pesquisa empírica, como os dados serão coletados/produzidos, quais serão os procedimentos para análise e interpretação dos dados, etc. Porém, sobretudo visa estudar e definir as escolhas teóricas em busca da compreensão do objeto proposto. As técnicas de produção e análise de dados são fruto de um processo de construção e constituem o nível mais operacional das definições metodológicas (COTANDA et al, 2008).

Oliveira (1998) traz um bom exemplo sobre o lugar do método na pesquisa: 
Ao se falar, por exemplo, em método Paulo Freire de aprendizagem, a  discussão seria muito mais redutora se apenas aludisse aos recursos e  instrumentos de que se vale para promover a alfabetização; seria necessário ir além para perceber o embasamento teórico, que dá suporte e consistência ao método. De que modo encara a educação? Quais os pressupostos da relação entre educador e educandos? Como tais questões podem interferir na produção do saber? (p. 21)
Para Bourdieu et al (1999), mesmo as técnicas mais empíricas não são descoladas das opções teóricas. Os métodos seriam então construídos em função do objeto. Para ele, são os pressupostos teóricos que fazem os dados empíricos funcionarem como evidências científicas. Mesmo que os autores referidos defendam a construção do método em função do objeto, considero que outros fatores também podem influenciar a construção, entre eles as especificidades do local do trabalho de campo, como no caso dos ambientes virtuais.

Considerar que a realidade é complexa e não-linear e que o conhecimento é sempre provisório, não significa, contudo, que nenhum método será capaz de captá-la satisfatoriamente (DEMO, 2002). Segundo o autor, “em parte, este reducionismo é natural, inevitável” (p. 361). Ao fazer pesquisa buscamos ordenar e estruturar, o que representa uma violência analítica, pois a força a caber em categorias estranhas a sua dinâmica complexa e não-linear. Contudo, mesmo que consideremos que “explicar é  inapelavelmente também simplificar” (p. 361), a explicação teórica organizada se faz necessária para delimitar/definir o objeto e os objetivos do trabalho científico, visto que, sem esses, o trabalho do pesquisador seria um emaranhado confuso.

Referências:

BOUDON e BOURRICAUD. Metodologia. In: _________. Dicionário crítico de sociologia. 2ª ed. São Paulo:Ática; 2000a.
BOURDIEU, Pierre, CHAMBOREDON, J.C; PASSERON, J.C. Ofício de Sociólogo. Metodologia da pesquisa na sociologia. Petrópolis, Rio de Janeiro, 1999.
COTANDA, SILVA, ALMEIDA, ALVES. Processos de Pesquisa nas Ciências Sociais: uma introdução. In: PINTO, GUAZZELLI. Ciências Humanas: pesquisa e método. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2008.
DEMO, Pedro. Cuidado Metodológico: signo crucial da qualidade. Sociedade e Estado, Brasília, v. 17, n. 2, jul/dez, 2002. p. 349-373.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, Técnica e Arte: o desafio da pesquisa social. In: _____. (org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 18ª ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
OLIVEIRA, Paulo de Salles. Caminhos de construção da pesquisa em Ciências Humanas. In: _________. Metodologia das Ciências Humanas. São Paulo: Hucitec, Unesp, 1998, p. 17-26.


25 julho 2013

[Sugestão de artigo] Série de textos sobre a construção de um artigo científico

A revista Epidemiologia e Serviços de Saúde publicou uma série de textos sobre comunicação científica, com autoria de Mauricio Gomes Pereira, professor Emérito de Epidemiologia da Universidade de Brasília. Os textos tratam sobre o artigo científico desde sua estrutura, o preparo até a análise de cada seção. É um bom guia para inspirar o processo - que não é simples.
O professor Maurício é médico, com experiência em Saúde Pública e Epidemiologia. Conhecer o autor é muito importante para interpretar o texto, pois as visões sobre a ciência e seus métodos são variadas e dinâmicas (para cada área do conhecimento e até entre cientistas e pesquisadores da mesma área). 
Os artigos estão disponíveis nos links abaixo:

Pereira MG. Estrutura do artigo científico. Epidemiologia e Serviços de Saúde. v.21 n.2 Brasília jun. 2012. 
Pereira MG. Preparo para a redação do artigo científicoEpidemiologia e Serviços de Saúde. v.21 n.3 Brasília set. 2012.
Pereira MG. A introdução de um artigo científico. Epidemiologia e Serviços de Saúde. v.21 n.4 Brasília dez. 2012.
Pereira MG. A seção de método de um artigo científico. Epidemiologia e Serviços de Saúde. v.22 n.1 Brasília mar. 2013.
Pereira MG. A seção de resultados de um artigo científico. Epidemiologia e Serviços de Saúde. v.22 n.2 Brasília, jun.2013.

03 junho 2013

Citações literais - uma versão sobre o uso

Há muito tempo atrás, li um artigo que fazia uma caricatura dos tipos de revisões bibliográficas em teses e dissertações. Mexendo nos meus textos guardados, o encontrei de novo. Quando fiz o TCC e tive que fazer uma dessas, deu pra compreender bem melhor. À propósito, reler um texto é uma coisa ótima de se fazer a qualquer momento, até pra ver como as perspectivas se renovam.

O artigo é de autoria de Alda Judith Alves-Mazzotti, na época professora da Universidade Estácio de Sá (RJ). Destaca, em cada exemplo, uma categoria de um conjunto de coisas que não se devem fazer em uma revisão de literatura. É claro que, para fazer essa crítica, a autora também falou sobre a exigência do referencial teórico, para quê ele serve e suas razões de existir, além de alguns apontamentos sobre a pesquisa científica. O artigo é relativamente curto e bem escrito, vale a pena ler. Porém, por ora, quero destacar um ponto específico que no texto aparece como nota de rodapé e me pareceu uma explicação muito didática. É sobre o uso das citações literais (especialmente as longas/recuadas) na revisão de literatura:

Citações literais devem ser usadas com cautela, uma vez que, por serem extraídas de outro contexto conceitual, raramente se adequam perfeitamente ao fluxo de exposição, além de, através dessa extração, correr-se o risco de desvirtuar o pensamento do autor. É imperioso respeitar a "ecologia conceitual", indicando a que tipo de situação, preocupações e condições a afirmação se refere. Consideramos que citações literais se justificam por três situações básicas:
(a) quando o autor citado foi tão feliz e acurado em sua formulação da questão que qualquer tentativa de parafraseá-la seria empobrecedora; 
(b) quando sua posição em relação ao tema é, além de relevante, tão idiossincrática, tão original, que o pesquisador julga conveniente expressá-la nas palavras do próprio autor, para afastar a dúvida de que a paráfrase pudesse ter traído o pensamento do autor e
(c) quando, no que se refere a autores cujas ideias tiveram considerável impacto em uma dada área, se quer demonstrar que a ambiguidade de suas formulações ou ainda a inconsistência entre definições dos mesmos conceitos, quando se considera a totalidade de sua obra, foram responsáveis pela diversidade de interpretações dadas a essas afirmações (o conceito de narcisismo em Freud e o conceito de paradigma em Kuhn são exemplos desse tipo de ambiguidade) (ALVES-MAZZOTTI, 2006, p. 38)

Por isso, pode-se dizer que uma citação literal deve ser utilizada somente quando há uma justificativa plausível para você não estar escrevendo com as suas palavras. É bom ter em mente que as citações literais não devem ser usadas indiscriminadamente ou porque "tem que ter". Elas têm uma função e podem mais atrapalhar do que ajudar, se em demasia. O melhor sempre é interpretar a ideia do autor e reescrevê-la com as suas palavras, tornando o seu texto original e relevante. 

Referência
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. A revisão da bibliografia” em teses e dissertações: meus tipos inesquecíveis – o retorno, In: BIANCHETTI, Lucídio; MACHADO, Ana Maria Netto (Orgs.) A bússola do escrever – desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações. 2 ed. Florianópolis/São Paulo: Editora da UFSC/Cortez Editora, 2006. p. 25-41.

26 dezembro 2012

[Sugestão de artigo] Web 2.0 e Pesquisa: Um Estudo do Google Docs em Métodos Quantitativos

Resumo
As abordagens inovadoras de ensino vêm se configurando como o meio mais eficiente de se alcançar uma educação de qualidade. Nesse contexto, as ferramentas da Web 2.0 aliam-se cada vez mais às práticas educativas a fim de alcançar seus objetivos. Entretanto, percebemos que nas pesquisas Survey poucas mudanças ocorreram nas práticas de gerenciar/administrar os questionários. Diante desse quadro, este trabalho busca realizar reflexões sobre a contribuição das ferramentas da Web 2.0, em especial o Google Docs, na pesquisa Survey, partindo de questionamentos acerca do uso dessa ferramenta mediando os processos de elaboração, disponibilização e avaliação dos questionários. Procuramos responder aos questionamentos a partir de um estudo bibliográfico e análises de duas formas de apresentação dos questionários, uma na forma do texto impresso e outra através do Google Docs. Percebemos que o uso dessa ferramenta possibilita ao pesquisador uma diversidade de estratégias como também uma economia coletiva nos processos do método de pesquisa.

Palavras-chaves: Web 2.0. Google Docs. Questionários

Web 2.0 and Research: A Study of Quantitative Methods in Google Docs

Abstract
The innovative teaching approaches are becoming increasingly the most efficient way to achieve a quality education. In this context, Web 2.0 tools combine with increasingly educational practices in order to achieve their goals. However, we realize that the few changes occurred Survey research practices to manage / administer the questionnaires. Against this background, this paper seeks to make reflections on the contribution of Web 2.0 tools, especially Google Docs, Survey research, from questions about the use of this tool mediating the processes of development, delivery and evaluation of questionnaires. We try to answer the questions from a bibliographical study and analysis of two forms of presentation of questionnaires, one in the form of printed text and the other through Google Docs. We realized that using this tool allows the researcher to a variety of strategies as well as a collective economy in the processes of research method.

Keywords: Web 2.0. Google Docs. Questionnaires

Referência
SILVA, Adriana Freire da; LÓS, SILVA, Dayvid Evandro da; LÓS,  Djalma Rodolfo da Silva. Web 2.0 e Pesquisa: Um Estudo do Google Docs em Métodos Quantitativos. RENOTE - Revista Novas Tecnologias na Educação (UFRGS), v. 9, n. 2, 2011.

Clique aqui para acessar o texto completo do artigo em .pdf.

05 novembro 2012

Controle corporativo de dados compromete pesquisas na era da web



Este é um artigo publicado originalmente no jornal New York Times em maio de 2012 (clique aqui para ver o artigo, em inglês). Utilizei-o no meu TCC para tratar sobre a posse de dados primários de pesquisas que envolvam dados de usuários de redes sociais. Esses dados acabam sendo propriedade de empresas (Facebook, Google etc) as quais produzem pesquisas com base nesses dados, porém não admitem disponibilizá-los para a comunidade científica. Para diversos cientistas, esses dados privados estariam ameaçando os próprios fundamentos da pesquisa científica.

Quando os cientistas publicam suas pesquisas, eles também disponibilizam os dados subjacentes para que os resultados possam ser verificados por outros cientistas. É assim, pelo menos, que o sistema deveria funcionar. Mas ultimamente, os cientistas sociais têm se posicionado contra uma exceção que é, fazendo jus ao seu nome, enorme. Trata-se dos "grandes volumes de dados", enormes conjuntos de informações coletadas por pesquisadores de empresas como Facebook, Google e Microsoft a partir de padrões de chamadas de celular, mensagens de texto e cliques na internet registrados por milhões de usuários ao redor do mundo.
As empresas muitas vezes se recusam a tornar públicas essas informações, às vezes por razões de concorrência e às vezes para proteger a privacidade dos clientes. Porém, para muitos cientistas, a prática é um convite à má ciência, ao sigilo e mesmo a possíveis fraudes.
A questão se mostrou candente no mês passado em uma conferência científica realizada em Lyon, na França, quando três cientistas do Google e da Universidade de Cambridge se recusaram a liberar os dados que haviam compilado para um artigo sobre a popularidade dos vídeos do YouTube em diferentes países.
O presidente do painel de conferências ¿ Bernardo A. Huberman, físico que dirige o grupo de computação social no HP Labs, em Palo Alto ¿ reagiu irritado. No futuro, disse ele, a conferência não deveria aceitar trabalhos de autores que não disponibilizassem os seus dados ao público. Ele foi saudado por aplausos da plateia.
Em fevereiro, Huberman tinha publicado uma carta na revista Nature alertando para o fato de que os dados privados estavam ameaçando os próprios fundamentos da pesquisa científica. "Se um outro conjunto de dados não validar os resultados obtidos com os dados privados", perguntou, "como saberemos se é porque eles não são universais ou se é porque os autores cometeram um erro?".
Ele acrescentou que o controle corporativo de dados pode vir a dar acesso preferencial a um grupo de cientistas de elite, provenientes das maiores corporações. "Se essa tendência continuar", escreveu ele, "vamos ver um pequeno grupo de cientistas tendo acesso a repositórios de dados privados e desfrutando de uma atenção injusta da comunidade, em detrimento de pesquisadores igualmente talentosos cuja única falha é a falta das 'conexões' certas a dados privados".
O Facebook e a Microsoft se recusaram a comentar o assunto. Hal Varian, economista-chefe do Google, afirmou simpatizar com a ideia de dados abertos, mas acrescentou que as questões de privacidade eram significativas.

24 setembro 2012

Citações: para quê servem? Como utilizar e formatar referências no corpo do trabalho.


Dando continuidade à sequência de posts com o conteúdo do guia de normatização que construí junto com outro professor (clique aqui para ver o primeiro post da série), o texto de hoje se refere às formas de se fazer citações em trabalhos acadêmicos. ;)

1  CITAÇÕES

As citações serão bastante utilizadas na parte textual do trabalho (exceto nas conclusões). Elas servem para situar o leitor no contexto teórico do trabalho,  parafraseando ou transcrevendo literalmente o texto da referência. As citações servem também para esclarecimento, sustentação ou ilustração do assunto. É recomendado que a citação siga exatamente as características do original. As citações podem ser diretas ou indiretas.
Logo que você compreender a importância da utilização do referencial teórico no seu estudo, naturalmente buscará formas de inserir no seu trabalho as ideias dos autores nos quais você se baseia. Para demonstrar que tal autor está presente no seu estudo, provavelmente você precisará descrever suas teorias e apresentá-lo. É aí que as citações aparecem como uma ferramenta importante para a clareza e a credibilidade de trabalho científico.


1.1  Citações diretas

É a transcrição literal do texto ou de parte dele. Pode ser utilizada de duas formas: citação direta com até três linhas ou citação direta longa (com mais de três linhas). Há diversas formas de se indicar a autoria e de qual publicação de trata uma referência, contudo, utilizaremos o sistema autor-data (também recomendado pela ABNT).

22 setembro 2012

A emergência de novidades metodológicas no campo virtual: uma análise de estudos no ciberespaço

Enquanto aguardo que o trabalho seja publicado no Lume, disponibilizo aqui o meu trabalho de conclusão de curso em Ciências Sociais, cujo tema são as novidades metodológicas em estudos das Ciências Sociais que têm a internet como campo de pesquisa.

Resumo

A proposta deste trabalho é analisar a emergência de novidades metodológicas na abordagem do campo virtual em uma amostra de estudos das ciências sociais que tiveram os ambientes virtuais como campo de pesquisa. O objetivo é conhecer as estrategias metodológicas desenvolvidas na pesquisa e observar o surgimento de novos conceitos. Para tanto, procurou-se tratar sobre a construção do conhecimento científico e a metodologia de pesquisa no contexto da sociedade da informação, focando as influências da internet na metodologia de pesquisa social. O ciberespaço, como uma dimensão da realidade social, tem sido objeto e campo de um número crescente de pesquisas na área de ciências sociais. Muitos desses estudos, em sua fase empírica, esbarraram nas diferenças que o ambiente virtual apresenta. Na análise, identifica-se essencialmente dois caminhos: os que empregam a mesma metodologia dos ambientes não-virtuais e os que, diante das  peculiaridades do ambiente virtual, adaptam, criam ou recriam os métodos e técnicas de pesquisa. Não só a pesquisa empírica passa por transformações, como a abordagem teórica também sofre com a definição dos termos, uma vez que as transformações nas denominações estão associadas também com a dinâmica da tecnologia material. De forma geral, a análise apresenta que os estudos têm observado diferentes aspectos possíveis da pesquisa na internet, trazendo tanto novidades metodológicas quanto metodologias típicas de espaços não-virtuais. O ciberespaço como campo traz novas questões ao pesquisador social na construção de sua metodologia de pesquisa, como a possibilidade de acesso a dados primários, a presença e o anonimato do observador, além da própria visão do autor sobre o que é o ciberespaço e a internet.

Palavras-chave: metodologia de pesquisa, ciberespaço, internet, pesquisa social em ambientes virtuais.

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27 agosto 2012

Dica de filme: O Ponto de Mutação

 
O Ponto de Mutação (Mindwalk) é um filme dirigido por Bernt Capra, baseado no livro de Fritjof Capra. O filme aborda um diálogo de três pessoas num dia cinzento, que encontraram-se casualmente em um passeio num castelo medieval na França. A conversa se dá entre uma cientista norueguesa, Sonia Hoffman (interpretado por Liv Ullmann), um político americano e ex-candidato à presidência , Jack Edwards (Sam Waterston) e o poeta Thomas Harriman (John Heard), um ex-redator de discursos políticos.

Na obra, Capra compara o pensamento cartesiano ao paradigma emergente no século XX. O primeiro é reducionista e modelo para o método científico desenvolvido nos últimos séculos. O segundo, mais holístico, vê o todo como indissociável. As comparações são feitas em vários campos da cultura ocidental atual, como a medicina, a biologia, a psicologia e a economia. Interessante para pensar algumas questões em ciência e sobre o “método científico”.

Ficha Técnica

Diretor: Bernt Amadeus Capra
Elenco: Liv Ullmann, Sam Waterston, John Heard, Ione Skye
Produção: Adrianna A. J. Cohen
Roteiro: Floyd Byars, Fritjof Capra
Fotografia: Karl Kases
Trilha Sonora: Philip Glass
Duração: 111 min.
Ano: 1991


21 agosto 2012

O estudo da estratificação social

As teorias de estratificação social consideram que a sociedade é dividida em camadas (ou estratos), as quais são definidas a partir de critérios determinados. Apesar da igualdade de direitos e deveres perante a sociedade, sabemos que o indivíduos possuem condições socioeconômicas distintas, o que influencia o acesso à saúde, educação, tipo de emprego e até mesmo a expectativa de vida. O estudo da divisão da sociedade em classes visa conhecer as diferenças de condições da população, especialmente com vistas à  implementação e avaliação de políticas públicas, além de conhecer a própria situação do país.

Para Marx, o fator econômico era o principal indicador sobre a posição de classe de um indivíduo. Isso significa que a ocupação (emprego) e a posição no mercado (como possuidor ou não de capital financeiro) determinariam a classe. Já para Bourdieu, a condição de classe se daria em função do capital econômico mais o capital cultural do sujeito. Os indicadores variam bastante na visão de cada autor. O que sabemos hoje é que a sociedade, muito mais complexa que na época da Revolução Industrial, demanda a revisão constante das definições de classe e, consequentemente, dos critérios de avaliação das posições dos indivíduos.

O estudo da estratificação social também tem como objetivo conhecer o quanto é possível obter mobilidade social ascendente em uma região ou país (GIDDENS, 2005). A mobilidade social significa o deslocamento do sujeito na posição socieconômica de classe. Esse movimento, contudo, pode ser tanto ascendente (ficando mais rico) quanto descendente (ficando mais pobre). O número de pessoas que "sobem" ou "descem" na posição de classe é um importante indicador sobre a economia de uma nação, podendo ter diversas causas.

Marx acreditava que a a classe trabalhadora (empregados de funções operacionais/manuais/indústria) cresceria e se uniria como classe a fim de lutar pelo estabelecimento de uma nova ordem social. O que aconteceu, porém, foi que a classe trabalhadora diminuiu e grande parte dos que "mudaram de vida" modificaram seus hábitos e gostos, além de adotar valores mais comuns da classe média tradicional.

Com a complexificação das atividades e das diversas formas de trabalho na atualidade, é cada vez mais difícil delimitar o que seria a classe média. Além disso, sabemos muito mais sobre os pobres do que sobre os ricos, uma vez que facilmente obtemos dados e conseguimos nos aproximar de populações mais carentes, enquanto as altas camadas dificilmente declaram dados sobre suas posses e estilo de vida.

Referência
GIDDENS, Anthony. Classe, Estratificação e Desigualdade. In: ________. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

11 abril 2012

Pesquisa Documental: utilização e abordagens metodológicas

A pesquisa documental é um recurso metodológico ainda visto como um complemento à produção de dados na prática de pesquisa social. É comum observarmos a utilização dos documentos nas pesquisas como uma ferramenta para reforçar o entendimento, situando relatos em um contexto histórico ou como um método que possibilita comparações entre as interpretações do observador com documentos relacionados.
Entretanto, Tim May (2004) apresenta outras perspectivas que elevam a pesquisa documental como um método que possui seus próprios méritos e potencialidades ainda pouco reconhecidas.

Por que não há tantos textos dedicados à pesquisa documental como outros métodos mais conhecidos?

May aponta três possíveis respostas para esse fenômeno. Uma é a influência positivista que rejeita a utilização de dados como base para uma pesquisa, considerando-os um “empirismo grosseiro”. Também há a ideia de que a pesquisa documental remeteria à pesquisa histórica, como se estivesse distante das Ciências Sociais (e de outras áreas do conhecimento). Além disso, a pesquisa documental dificilmente é considerada como um método, pois dizer que se utilizará documentos é não dizer nada sobre como eles serão utilizados. Desenvolveremos esse “como utilizar” mais adiante.

Fontes da pesquisa documental: como definir os documentos

John Scott (1990, apud May, 2004) define os documentos, em um sentido geral, como textos escritos, tanto em papel quanto em arquivos de computador, os quais têm o conteúdo como propósito primário. Podem ser considerados para a pesquisa documental: relatórios, estatísticas oficiais, registros governamentais, discursos, conteúdo de mídia de massa, romances, peças, desenhos, mapas, documentos pessoais, diários, fotografias e uma gama de materiais.

25 fevereiro 2012

Elaboração do projeto de pesquisa: a definição do objeto

O primeiro capítulo de Triviños (2001) dedica-se à tarefa de elaboração de um projeto de pesquisa. O que um pesquisador precisa pensar para desenvolver o seu projeto? O autor defende que essa elaboração seria constituída das seguintes etapas:

a) definição do objeto de estudo;
b) opção pelos aspectos metodológicos ou abordagem metodológica do estudo;
c) cronograma de execução;
d) anexos;
e) referências.

Neste primeiro momento, vamos desenvolver um pouco sobre a primeira etapa: a definição do objeto.


A definição do objeto (ou problema de pesquisa) é a etapa na qual o pesquisador irá decidir delimitar o que deseja estudar. Para começar, é essencial que realize uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, fazendo uma seleção de materiais em bibliotecas, acervos online e outras fontes (veja mais sobre fontes de referência).

É importante conhecer outros estudos sobre a temática e observar as bases teóricas nas quais estão sustentadas as ideias de cada autor. Assim é bem provável que o pesquisador visualize o potencial de outros ângulos do problema ou a possibilidade de uma nova proposta de abordagem teórico-metodológica para a questão de interesse. Nesse momento, é possível que a primeira ideia de problema tenha sido consideravelmente modificada, pois o autor tende a obter novas propostas de estudo a medida em que aprofunda o seu conhecimento na questão. Entretanto, em um dado momento, é preciso ter o cuidado de delimitar a questão e seguir com o foco nela. 

Nessa etapa, uma aproximação empírica é bastante indicada. A pesquisa exploratória deve constar no projeto, podendo ser apresentada como um ensaio da aproximação que se realizará posteriormente (o trabalho de campo). O trabalho de campo exploratório também auxilia no desenvolvimento de questões, objetivos e abordagens complementares à pesquisa bibliográfica.

Sobre as questões teóricas, Triviños assume que as teorias que escolhemos para sustentar ou refutar uma hipótese ou argumento estão unidas à nossa maneira de apreciar o mundo. Temos concepções gerais da realidade, nossas maneiras de pensar sobre o mundo. Tudo isso está ligado aos argumentos que vamos aceitar como verdadeiros e utilizar na nossa definição e argumentação sobre dado tema. 

Dessa forma, no texto científico, buscamos definir pormenorizadamente cada conceito de uma teoria, com os entendemos e como cabem na problemática. No estudo das referências da temática de interesse, possivelmente o pesquisador encontrará tendências teóricas gerais (positivismo, marxismo, estruturalismo, pós-estruturalismo, estrutural-funcionalismo, etnometodologia...) e teorias específicas (construtivismo genético de Piaget, teoria do discurso de Foulcault, materialismo histórico de Marx etc) as quais irão inspirar o autor na abordagem do problema de pesquisa. 

Além disso, as escolhas teóricas também podem orientar os aspectos metodológicos, pois teoria e método estão ligados no sentido que o paradigma determinará a matiz dos resultados. Dito de outra forma, as teorias "pedem" determinados enfoques práticos do problema. Mas, a partir daqui, estamos falando do que Triviños considera como a segunda etapa da elaboração do projeto, a  abordagem metodológica do estudo, que desenvolveremos mais adiante. :)

Referência:

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Cadernos de Pesquisa Ritter dos Reis - vol. IV. Bases Teórico-Metodológicas da Pesquisa Qualitativa em Ciências Sociais. 2ª ed. Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2001.

13 fevereiro 2012

A construção dos procedimentos metodológicos em projetos de pesquisa


Os procedimentos metodológicos constituem a fase final de apresentação de um projeto de pesquisa. Após ter esclarecido as facetas do problema, sua fundamentação teórica (em que argumentos irá se sustentar/visões que irá refutar) e revisão bibliográfica (o que outros autores já escreveram sobre o assunto), é hora de demonstrar como o problema será abordado empiricamente. Para tanto, é preciso apresentar como isso será feito na seção dos procedimentos metodológicos.

Para construir a apresentação dos seus procedimentos, pense sobre os seguintes elementos e tente responder às perguntas seguintes:

1. Métodos de investigação: como será estruturado o trabalho? Qual o foco empírico? Ex.: estudo de caso, survey, pesquisação etc.

2. Fontes e acesso aos dados: quem se irá entrevistar/questionar? De que forma? Com qual instrumento? Se os dados são secundários, de onde vêm? Se as fontes forem pessoas, como serão contatadas e abordadas? 
3. Características da amostra: como será feito o delineamento da amostra? Ex.: aleatória, estratificada, por cotas etc. Qual é o público-alvo? [Veja: Exemplos de modelos de amostragem]
4. Coleta/produção de dados: a partir de que técnica se obterão os dados? Ex.: observação, entrevista, questionário, história de vida, pesquisa documental etc. Como será sistematizado o trabalho de campo? No trabalho de campo, as falas serão anotadas/gravadas, filmadas? Como os dados serão organizados? Será utilizado algum software de apoio?
5. Análise dos dados: como os dados serão analisados? Que técnica/perspectiva será utilizada para análise? Por quê? Será utilizado algum software específico para este trabalho? Ex.: NVivo, Atlas.ti, MaxQDA, MSExcel, SPSS etc).
6. Instrumentos de coleta de dados: o que será utilizado para produzir os dados? A entrevista ou o questionário será mais ou menos estruturado? Como o instrumento será distribuído e aplicado?

Descrever claramente como a pesquisa empírica será realizada o auxilia a obter um melhor "controle" sobre o trabalho e demonstra conhecimento sobre o processo de pesquisa, além de reconhecer a responsabilidade do pesquisador para com os dados e sua manipulação.

Fonte: anotações produzidas em aulas da disciplina Projeto de TCC em Sociologia, ministrada pela profª. Cinara Rosenfield em 2011/2 para o curso de Ciências Sociais da UFRGS.

Veja também: 
A construção da metodologia na pesquisa social
Elaboração do projeto de pesquisa: a definição do objeto