A equipe de produção da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) construiu um Recurso Educacional Aberto (REA) sobre estratégias de leitura de textos acadêmicos. A ideia é auxiliar as pessoas a compreender textos, artigos acadêmicos e científicos, por meio da elaboração de uma ficha de leitura.
Ao longo dos últimos anos, estou tendo a oportunidade de trabalhar com diferentes segmentos do ensino básico. Essa vivência profissional e pessoal tem sido bastante intensa, pois as demandas, necessidades e imprevistos acabam tomando conta do cotidiano. Ainda assim, as dificuldades algumas vezes foram importantes para o desenvolvimento de estratégias de superação.
Uma das experiências mais ricas e desafiadoras se deram como docente de Ciências Humanas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. É um rico momento da vida escolar para suscitar o interesse na área, despertar a curiosidade científica e o olhar crítico. No entanto, a realidade da sala de aula exige intensa dedicação na criação de ideias para cada momento, pois a atenção do educando tem de ser conquistada várias vezes ao longo de uma aula.
Ao trabalhar com os Anos Iniciais, compreendi a forte necessidade de se organizar o espaço, o quadro (apagar registros anteriores, colocar data e alguma observação sobre o dia, atividades e conteúdos programados) e realizar uma acolhida, especialmente quando for a primeira aula do turno. Essa acolhida pode ser uma história, uma dinâmica, uma música, um vídeo... Ter essa rotina contribui muito para o envolvimento nas propostas didáticas, pois é um momento de conexão entre a professora e o grupo e no grupo entre si.
Para as acolhidas que envolviam imagens e vídeos (ou outra atividade que envolva essas ou outras mídias), criei um instrumento de registro para o momento. O registro é importante para estimular a reflexão, a escrita e a expressão do educando que muitas vezes está em uma fase inicial de seu processo de alfabetização.
Como citar este texto PEREIRA, Vanessa Souza. Cartões de análise para imagens e vídeos - Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Contornos Educação e Pesquisa, Florianópolis, 2019. Disponível em: <http://www.contornospesquisa.org/2019/10/cartoes-de-analise-para-imagens-e.html>. Acesso em: dia/mês/ano.
Participei recentemente um curso sobre diferentes gêneros textuais em sala de aula e nele tive a oportunidade de pensar a utilização de 4 diferentes gêneros nas aulas de Sociologia: (1) tirinhas, (2) charges, (3) pinturas e (4) propagandas.
Segue o que analisei como registro e socialização para docentes do componente. ;)
A tirinha de Quino mostra o início de uma movimentação de pessoas em torno de uma informação que Mafalda aparentemente desconhecia, mas decidiu ir junto para ver o que era. Deparou-se com uma multidão cercando uma menina com olhares de espanto e ela, constrangida, com o pensamento “Quem espalhou que eu não gosto dos Beatles?”.
É possível relacionar a tirinha com alguns conceitos da obra de Émile Durkheim, como fato social, instituições sociais, coercitividade e coesão social. A tirinha pode ser um instrumento para ilustrar como ocorre a coercitividade, de modo que quando algo foge dos padrões sociais aceitos no momento, tende a ser considerado motivo de estranhamento, espanto ou perseguição.
No caso, além da coerção ocorrer em torno da menina que não gosta dos Beatles, está presente também quando Mafalda e várias das pessoas ao redor se deslocam para o mesmo ponto aparentemente sem saber do que se trata. Entende-se que a movimentação de uma multidão contribuiu para aguçar a curiosidade de Mafalda sobre o que as movia.
Essas questões podem ser discutidas com mais exemplos do que popularmente se chama de “comportamento de manada” ou “maria-vai-com-as-outras”, fatos sociais presentes no cotidiano dos adolescentes inclusive nos ambientes virtuais.
A charge de Savron publicada em 2019 retrata uma montanha de corpos de pessoas negras sem feições, ensanguentados e empilhados embaixo de uma representação da estátua do Cristo Redentor. O sangue se acumula na base da pilha de corpos, o que se relaciona com a forma como esses corpos são tratados, mais um em uma montanha. Não há outros elementos ou texto verbal. A crítica da charge remete aos repetidos casos de assassinatos de moradores de comunidades do Rio de Janeiro dominadas pela milícia, o tráfico e a ostensiva presença policial.
Na escrita em ambientes virtuais, letras maiúsculas significam que a pessoa está gritando, o que enfatiza o argumento que a charge traz com a imagem: a relação entre religião, poder, política e a atuação do Estado por meio da ação policial nas comunidades em situação de vulnerabilidade social.
3. Pintura
Pawel Kuczynski é um artista polonês cuja obra nos convida a refletir sobre o modo como utilizando as mídias e novas tecnologias de comunicação e informação.
Ao analisar uma das obras de Kuczynski em uma proposta didática no componente de Sociologia no Ensino Médio, várias questões podem ser discutidas, como o papel social do jornalismo, a grande mídia, as mídias independentes, as dinâmicas das redes sociais, os linchamentos virtuais, entre outros assuntos emergentes decorrentes da relação entre comunicação, novas tecnologias, sociedade e violência.
É possível ainda fazer relação com o texto de Bertold Brecht “Há muitas maneiras de matar”, pensando nas diferentes formas de violência que podem ocorrer nos ambientes virtuais.
“Há muitas maneiras de matar. Podem enfiar-te uma faca na barriga, arrancar-te o pão, não te curar de uma enfermidade, meter-te numa casa sem condições, torturar-te até a morte por meio de um trabalho, levar-te para a guerra, etc. Somente poucas destas coisas estão proibidas na nossa cidade.”
A peça analisada a seguir é uma campanha publicitária de enfrentamento e reflexão sobre a construção social do machismo pelo governo do Equador.
Considerando a visão de Charaudeau (2008), podemos observar que a peça mobiliza o emocional demonstrando a forma como somos impelidos desde antes de vir ao mundo pela família e pela sociedade a seguir determinados padrões de gênero. Tudo o que se refere à menina tem a cor rosa e remete à beleza física, delicadeza e submissão, enquanto o menino utiliza a cor azul e apresenta agressividade, impaciência, inclinação aos esportes e à violência. Ao longo do vídeo estão presentes vários objetos que remetem metaforicamente aos papéis de gênero, como bonecas, roupa de princesa, produtos de beleza, tanque de guerra e armas de brinquedo. A música que embala o comercial tem tom jocoso, o que demonstra como os comportamentos em questão são reproduzidos sem reflexão e com o incentivo das famílias.
As imagens e símbolos não verbais têm grande influência na construção do argumento, especialmente quando os jovens adolescentes recebem um presente: um par de algemas para a menina e luvas de boxe para o menino, remetendo às posições de submissão e opressão, respectivamente. A mensagem não deixa dúvidas que as mulheres estão em posição de desvantagem nessa relação, que vai se desenvolvendo até culminar no matrimônio e a geração de descendentes desse casal.
O narrador é um homem e seu tom é grave, cujo ethos associa a ideia a uma questão urgente a ser pensada por todos os gêneros, ou seja, não é algo apenas de interesse das mulheres. O orador aparece apenas no final do vídeo com o comando “o machismo é um mal que se aprende, está em ti poder eliminá-lo. Reage, Equador, machismo é violência”.
Procuro discutir a aproximação entre uma geração de sociólogos paulistanos, pesquisadores das relações raciais no Brasil, entre os anos 1950 e 1970, com ativistas e intelectuais negros de São Paulo. O foco se dá nas aproximações entre Florestan Fernandes e a Associação Cultural do Negro, permitindo retroceder e avançar no tempo, vislumbrando-se outras figuras igualmente importantes como Roger Bastide, Virgínia Leone Bicudo, Octavio Ianni, Eduardo de Oliveira e Oliveira. A hipótese é de que há uma aproximação de projetos políticos acerca da mudança social pautada pela luta antirracista, que se modificará em função do golpe de Estado civil-militar de 1964.
Palavras-chave: Intelectuais negros; ativismo; luta antirracista; Florestan Fernandes; Associação Cultural do Negro
Referência
SILVA, Mário Augusto Medeiros da. Órbitas sincrônicas: sociólogos e intelectuais negros em São Paulo, anos 1950-1970. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro , v. 8, n. 1, p. 109-131, abr. 2018 . Disponível em <http://dx.doi.org/10.1590/2238-38752017v814>, acessos em janeiro de 2019.
Embora seja pouco comum (e recomendável), por vezes há a necessidade de citar e referenciarum material com autoria desconhecida. É importante destacar que a autoria é desconhecida, o que não significa que não exista autoria. Um texto sempre terá um/a autor/a, podendo ser autoria coletiva ou em nome de instituições.
Quando não encontramos a autoria do texto, primeiramente devemos pesquisar sobre a publicação em outros locais, buscar o dado de forma mais ampla. Caso ainda assim não o encontre, questionar-se sobre a confiabilidade dessa fonte e se é realmente importante para o trabalho. Se a resposta a essa última questão foi positiva, a ABNT 6023 indica uma alternativa para referenciar o material:
8.1.3 Autoria desconhecida Em caso de autoria desconhecida, a entrada é feita pelo título. O termo anônimo não deve ser usado em substituição ao nome do autor desconhecido. Exemplo: DIAGNÓSTICO do setor editorial brasileiro. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 1993. 64 p.
Assim, colocamos a primeira palavra do título em caixa alta e as seguintes normais, sem utilizar negrito. Veja bem, não é mesmo o caso de legislações, pois o autor dessas é a unidade administrativa ou a instituição responsável.
Exemplos:
BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS). Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Resolução Nº 04/2004. Diretrizes para o Plano Pedagógico das Licenciaturas da UFRGS. Disponível em: http://www.ufrgs.br/cepe/legislacao/Res04-04.htm
Lembre-se de considerar a palavra seguinte ao colocar em maiúsculas se o título iniciar com artigo definido, indefinido ou palavra monossílaba.
Exemplo:
A ÉTICA nas universidades brasileiras...
Por fim, tente incluir mais informações que conseguir sobre a publicação a fim de que outros elementos possam ajudar a entender a fonte, pois a ausência de autoria é um ponto de atenção para a confiabilidade da fonte.
Obs.: As mudanças na ABNT 6023 de 14 de novembro de 2018 não alteraram esse item.
Referência:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6023: Informação e documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro, 2002.
É comum utilizarmos os termos citare referenciarem redações e comunicações científicas, porém nem sempre é claro para quem está iniciando o que são essas ações.
De acordo com o Dicionário Priberam, os dois vocábulos são sinônimos de mencionar e referir. No entanto, em pesquisa, de forma prática, consideramos cada palavra para uma ação diferente.
Citar: é transcrever os textos/falas de autores de forma literal ou parafraseada ao longo do texto. (= CITAÇÃO).
Exemplo:
Conforme Dussel (1993, p. 35), “A América não é descoberta como algo que resiste distinta, como o Outro, mas como a matéria onde é projetado o 'si mesmo'.”
Referenciar: é associar a citação aos seus dados de registro (especialmente autor e data). Cada citação demanda duas referências:
1) Ao longo do texto, logo após trecho transcrito/parafraseado, no sistema autor-data.
Exemplo: (DUSSEL, 1993, p. 35)
2) No final do trabalho, na lista de referências.
Exemplo: DUSSEL, Enrique. 1492: o encobrimento do outro – a origem do mito da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993.