Estudos e reflexões sobre metodologias de pesquisa, redação científica, normatização ABNT e fontes bibliográficas. Formação de professores. Letramento acadêmico e profissional.
Os podcasts já vinham se popularizando nos últimos anos, e com o contexto de pandemia, distanciamento social e aulas remotas, sua utilização tornou-se uma alternativa interessante para a educação. Esse recurso tem sido bastante utilizado por professores, tanto como forma de se aproximar de seus estudantes quanto para sua própria formação.
O que é um podcast? Trata-se de um meio de publicação de arquivos de mídia (áudio) em agregadores diversos (Apple, Google, Spotify, Deezer, Pocket, entre outros ou até mesmo em um site próprio). É muito comparado ao rádio, por ser uma mídia sonora, porém, apresenta algumas diferenças. O podcast é um conteúdo “on demand”, ou seja, tocado sob demanda do usuário. Não há uma programação diária, o arquivo é postado e cada um ouve quando e quantas vezes quiser. Também é um conteúdo fácil de compartilhar por meio de links. Existem programas curtos, de até 10 minutos, outros com cerca de uma hora e até com várias horas de duração, que o usuário pode ouvir em partes.
Atualmente, com a maior facilidade de produzir e distribuir, passou-se a observar como esse poderia ser mais um recurso didático para o contexto de ensino remoto emergencial, ensino híbrido ou mesmo em aulas totalmente presenciais.
O formato possui diversos potenciais, como suscitar o interesse do educandos com uma forma diferente de entrar em contato com o conteúdo, diversificação dos espaços de aprendizagem, contribuição para os diferentes ritmos de aprendizagem (já que se pode ouvir de forma acelerada, pausada ou re-ouvir várias), acessibilidade para estudantes com deficiência visual ou dificuldades de leitura e, quando os estudantes também produzem os programas, há uma intensa mobilização sócio-discursiva, pois é necessária uma organização do discurso por parte do estudante.
Quanto aos desafios, um dos principais se refere à possibilidade de conexão para download ou ouvir os áudios em streaming. Para muitos estudantes, esse ainda é um entrave significativo. Outro desafio é a sustentabilidade do projeto por parte dos professores. Um podcast, assim como qualquer projeto, precisa de planejamento, objetivo e roteiro claros, o que demanda muita preparação e disposição. Uma dica para superar esse desafio é formar parcerias, trazer convidados/as, ter um grupo de apoio e dividir tarefas. Outra dica é que os podcasts se organizam por temporadas, você pode criar uma temporada com um número limitado de episódios os quais você se compromete em produzir (por exemplo uma temporada de 4 episódios) e depois vê a viabilidade de realizar outras temporadas.
Algumas dicas de podcasts para estudantes e professores*
BBC Learning English
Café da Manhã
Fronteiras da Ciência
Fronteiras Invisíveis do Futebol
História No Cast
História Preta
Mira na Língua Portuguesa
Nerdcast
Ponto de Virada
Prato cheio
Quadro Negro
Teaching in Critical Times
Trip com Ciência
Xadrez Verbal
*Dicas de estudantes e colegas por meio de enquete em maio de 2020 - envie suas sugestões nos comentários. :)
Destaco também duas iniciativas (entre tantas maravilhosas) de professores da educação básica:
Como começar a produzir um podcast? Para as minhas aulas no Ensino Médio em 2020, utilizei a plataforma Anchor (https://anchor.fm) para produzir aulas em áudio para os estudantes. Trata-se de uma plataforma gratuita e bastante intuitiva, é possível produzir programas por meio do celular.
Para saber mais como funciona essa ferramenta, recomendo o curso (que foi a principal referência para este texto) "Podcast na educação: da ideia à publicação" realizado pelo EDUMÍDIA - UFSC para a Semana de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação da UFSC (SEPEX).
O curso está disponível no YouTube:
COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM:
PEREIRA, Vanessa Souza. Podcast na educação: o que é, dicas e como começar. Contornos - Educação e Pesquisa, Florianópolis, 2020. Disponível em: <http://www.contornospesquisa.org/2020/10/podcast-na-educacao.html>. Acesso em: dia/mês/ano.
Ao completar 10 anos, o site Contornos entra em uma nova fase de conteúdos com a participação de professores/as e pesquisadores/as. A primeira convidada é a cientista social Andressa Nunes Soilo, que pesquisa Antropologia Digital e Antropologia da Propriedade Intelectual.
A plataformização da educação tem sido cada vez mais acolhida pelo mercado, instituições de ensino e alunos com acesso à internet. Comprometendo-se, especialmente, a flexibilizar o formato de aulas presenciais envoltas em horários determinados e exposições instantâneas, o modelo da educação à distância no ambiente online proporciona certo ajuste das demandas da vida à vida.
No cenário da COVID-19, o EAD assume novos significados e (im)possibilidades junto à educação nacional e seus atores. O formato online de ensino passa a ser adotado como um recurso de prosseguimento do “normal” por várias instituições pedagógicas em todo o país - o cumprimento do calendário escolar, o ritmo do ensino-aprendizado, a preparação para o ENEM foram algumas das motivações que alicerçaram o EAD como medida de segurança.
Deixando de servir apenas como possibilidade, e assumindo uma roupagem de compromisso emergencial à educação para alguns, o EAD subitamente causou desconforto. De engajamento a nível nacional, o formato passa a ser percebido como um ato descompromissado com as realidades do Brasil. O ensino à distância anuncia uma metáfora sobre a (constante) distância que o ensino está de muitos brasileiros.
Não por acaso. Aproximadamente 27% dos domicílios no Brasil não possuem acesso à internet (IBGE, 2018); cerca de 4,8 milhões de crianças e adolescentes não têm acesso à internet em casa (TIC EDUCAÇÃO, 2019); e quase 40% dos estudantes da rede pública de ensino não possui computadores ou tablets (idem). Também, somente 14% das escolas públicas contam com uma plataforma digital de ensino (idem).
Em um contexto social que apresenta tais dados, a oportunidade de acessar plataformas online de ensino passa a simbolizar a existência do sujeito social no mapa da educação. No mapa do cuidado, e da importância. Um sujeito incluído no e pelo Estado.
O EAD passa, assim, a ser um demarcador explícito das desigualdades e da exclusão social. Torna-se uma expressão de distinção na pandemia. Distinção entre aqueles que podem receber educação por meio do ambiente digital, e aqueles que não.
Os esforços de fazer parte de um lugar, sem ter o caminho para este, são regularmente apontados por parte da mídia. Crianças esperam seus pais voltarem de seus empregos para terem acesso a celulares, e assim, assistirem às aulas. Estudantes criam redes de compartilhamento de dispositivos móveis e internet para que colegas e amigos tenham acesso ao conhecimento. Utilizam a internet das comunidades em que vivem. Outros ainda, organizam encontros presenciais na casa dos colegas que possuem acesso aos aprendizados.
Contudo, somado a esses obstáculos, há também a percepção de que pouco do que é ensinado online é absorvido pelos estudantes. Muitos pretendem “repetir de ano”, pois sentem que não aprenderam o suficiente. Por vezes, há pouca familiaridade dos professores com o ensino à distância, ou mesmo com as tecnologias envolvidas neste processo. O EAD foi lançado sem apresentar metodologia que contribuísse para a preparação e recepção do conhecimento.
Neste cenário, a constante construção da inclusão por quem está excluído pode ser interpretada como resistência às características neoliberais que envolvem tal formato emergencial de ensino. O distanciamento social, nestes casos, é menos um distanciamento em prol da saúde do que um distanciamento total do Estado e de seus direitos fundamentais.
Referências IBGE, 2018. PNAD Contínua TIC 2018. Disponível em: <https://bit.ly/3212lBY> Acesso em: 06, set, 2020 TIC EDUCAÇÃO, 2019. TIC Kids Online Brasil 2019 - Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) Disponível em: <https://cetic.br/pt/pesquisa/kids-online/indicadores/> Acesso em: 06, set, 2020.]
Andressa Nunes Soilo
É doutora e mestra em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cientista social graduada pela mesma universidade e bacharel em Direito graduada pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Pesquisa temas nas áreas da Antropologia da Propriedade Intelectual, Antropologia Digital e Antropologia do Consumo.
Contato: Twitter @andressanns ou e-mail andressansoilo@outlook.com
COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM:
SOILO, Andressa Nunes. A plataformização da educação na pandemia. Contornos - Educação e Pesquisa, Porto Alegre, 2020. Disponível em: <http://www.contornospesquisa.org/2020/10/a-plataformizacao-da-educacao-na.html>. Acesso em: dia/mês/ano.