Contornos - Educação e Pesquisa: outubro 2020

26 outubro 2020

Podcast na educação: o que é, dicas e como começar

 
Os podcasts já vinham se popularizando nos últimos anos, e com o contexto de pandemia, distanciamento social e aulas remotas, sua utilização tornou-se uma alternativa interessante para a educação. Esse recurso tem sido bastante utilizado por professores, tanto como forma de se aproximar de seus estudantes quanto para sua própria formação.
 
O que é um podcast? Trata-se de um meio de publicação de arquivos de mídia (áudio) em agregadores diversos (Apple, Google, Spotify, Deezer, Pocket, entre outros ou até mesmo em um site próprio). É muito comparado ao rádio, por ser uma mídia sonora, porém, apresenta algumas diferenças. O podcast é um conteúdo “on demand”, ou seja, tocado sob demanda do usuário. Não há uma programação diária, o arquivo é postado e cada um ouve quando e quantas vezes quiser. Também é um conteúdo fácil de compartilhar por meio de links. Existem programas curtos, de até 10 minutos, outros com cerca de uma hora e até com várias horas de duração, que o usuário pode ouvir em partes.
 
Atualmente, com a maior facilidade de produzir e distribuir, passou-se a observar como esse poderia ser mais um recurso didático para o contexto de ensino remoto emergencial, ensino híbrido ou mesmo em aulas totalmente presenciais.
 
O formato possui diversos potenciais, como suscitar o interesse do educandos com uma forma diferente de entrar em contato com o conteúdo, diversificação dos espaços de aprendizagem, contribuição para os diferentes ritmos de aprendizagem (já que se pode ouvir de forma acelerada, pausada ou re-ouvir várias), acessibilidade para estudantes com deficiência visual ou dificuldades de leitura e, quando os estudantes também produzem os programas, há uma intensa mobilização sócio-discursiva, pois é necessária uma organização do discurso por parte do estudante.
 
Quanto aos desafios, um dos principais se refere à possibilidade de conexão para download ou ouvir os áudios em streaming. Para muitos estudantes, esse ainda é um entrave significativo. Outro desafio é a sustentabilidade do projeto por parte dos professores. Um podcast, assim como qualquer projeto, precisa de planejamento, objetivo e roteiro claros, o que demanda muita preparação e disposição. Uma dica para superar esse desafio é formar parcerias, trazer convidados/as, ter um grupo de apoio e dividir tarefas. Outra dica é que os podcasts se organizam por temporadas, você pode criar uma temporada com um número limitado de episódios os quais você se compromete em produzir (por exemplo uma temporada de 4 episódios) e depois vê a viabilidade de realizar outras temporadas.

Algumas dicas de podcasts para estudantes e professores*

  • BBC Learning English
  • Café da Manhã
  • Fronteiras da Ciência
  • Fronteiras Invisíveis do Futebol
  • História No Cast
  • História Preta
  • Mira na Língua Portuguesa
  • Nerdcast
  • Ponto de Virada
  • Prato cheio
  • Quadro Negro
  • Teaching in Critical Times
  • Trip com Ciência
  • Xadrez Verbal

*Dicas de estudantes e colegas por meio de enquete em maio de 2020 - envie suas sugestões nos comentários. :) 

Destaco também duas iniciativas (entre tantas maravilhosas) de professores da educação básica:


Como começar a produzir um podcast? Para as minhas aulas no Ensino Médio em 2020, utilizei a plataforma Anchor (https://anchor.fm) para produzir aulas em áudio para os estudantes. Trata-se de uma plataforma gratuita e bastante intuitiva, é possível produzir programas por meio do celular. 

Para saber mais como funciona essa ferramenta, recomendo o curso (que foi a principal referência para este texto) "Podcast na educação: da ideia à publicação" realizado pelo EDUMÍDIA - UFSC para a Semana de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação da UFSC (SEPEX).

O curso está disponível no YouTube:

 
 
 

COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM:

PEREIRA, Vanessa Souza. Podcast na educação: o que é, dicas e como começar. Contornos - Educação e Pesquisa, Florianópolis, 2020. Disponível em: <http://www.contornospesquisa.org/2020/10/podcast-na-educacao.html>. Acesso em: dia/mês/ano.   

14 outubro 2020

A plataformização da educação na pandemia


Ao completar 10 anos, o site Contornos entra em uma nova fase de conteúdos com a participação de professores/as e pesquisadores/as. A primeira convidada é a cientista social Andressa Nunes Soilo, que pesquisa Antropologia Digital e Antropologia da Propriedade Intelectual.

A plataformização da educação tem sido cada vez mais acolhida pelo mercado, instituições de ensino e alunos com acesso à internet. Comprometendo-se, especialmente, a flexibilizar o formato de aulas presenciais envoltas em horários determinados e exposições instantâneas, o modelo da educação à distância no ambiente online proporciona certo ajuste das demandas da vida à vida.
 
No cenário da COVID-19, o EAD assume novos significados e (im)possibilidades junto à educação nacional e seus atores. O formato online de ensino passa a ser adotado como um recurso de prosseguimento do “normal” por várias instituições pedagógicas em todo o país - o cumprimento do calendário escolar, o ritmo do ensino-aprendizado, a preparação para o ENEM foram algumas das motivações que alicerçaram o EAD como medida de segurança.

Deixando de servir apenas como possibilidade, e assumindo uma roupagem de compromisso emergencial à educação para alguns, o EAD subitamente causou desconforto. De engajamento a nível nacional, o formato passa a ser percebido como um ato descompromissado com as realidades do Brasil. O ensino à distância anuncia uma metáfora sobre a (constante) distância que o ensino está de muitos brasileiros.

Não por acaso. Aproximadamente 27% dos domicílios no Brasil não possuem acesso à internet (IBGE, 2018); cerca de 4,8 milhões de crianças e adolescentes não têm acesso à internet em casa (TIC EDUCAÇÃO, 2019); e quase 40% dos estudantes da rede pública de ensino não possui computadores ou tablets (idem). Também, somente 14% das escolas públicas contam com uma plataforma digital de ensino (idem).

Em um contexto social que apresenta tais dados, a oportunidade de acessar plataformas online de ensino passa a simbolizar a existência do sujeito social no mapa da educação. No mapa do cuidado, e da importância. Um sujeito incluído no e pelo Estado.

O EAD passa, assim, a ser um demarcador explícito das desigualdades e da exclusão social. Torna-se uma expressão de distinção na pandemia. Distinção entre aqueles que podem receber educação por meio do ambiente digital, e aqueles que não.

Os esforços de fazer parte de um lugar, sem ter o caminho para este, são regularmente apontados por parte da mídia. Crianças esperam seus pais voltarem de seus empregos para terem acesso a celulares, e assim, assistirem às aulas. Estudantes criam redes de compartilhamento de dispositivos móveis e internet para que colegas e amigos tenham acesso ao conhecimento. Utilizam a internet das comunidades em que vivem. Outros ainda, organizam encontros presenciais na casa dos colegas que possuem acesso aos aprendizados.

Contudo, somado a esses obstáculos, há também a percepção de que pouco do que é ensinado online é absorvido pelos estudantes. Muitos pretendem “repetir de ano”, pois sentem que não aprenderam o suficiente. Por  vezes, há pouca familiaridade dos professores com o ensino à distância, ou mesmo com as tecnologias envolvidas neste processo. O EAD foi lançado sem apresentar metodologia que contribuísse para a preparação e recepção do conhecimento.

Neste cenário, a constante construção da inclusão por quem está excluído pode ser interpretada como resistência às características neoliberais que envolvem tal formato emergencial de ensino. O distanciamento social, nestes casos, é menos um distanciamento em prol da saúde do que um distanciamento total do Estado e de seus direitos fundamentais.


Referências
IBGE, 2018. PNAD Contínua TIC 2018. Disponível em: <https://bit.ly/3212lBY> Acesso em: 06, set, 2020
TIC EDUCAÇÃO, 2019. TIC Kids Online Brasil 2019 - Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) Disponível em: <https://cetic.br/pt/pesquisa/kids-online/indicadores/> Acesso em: 06, set, 2020.]

  

Andressa Nunes Soilo

É doutora e mestra em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cientista social graduada pela mesma universidade e bacharel em Direito graduada pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Pesquisa temas nas áreas da Antropologia da Propriedade Intelectual, Antropologia Digital e Antropologia do Consumo.

Contato: Twitter @andressanns ou e-mail andressansoilo@outlook.com


COMO REFERENCIAR ESTA POSTAGEM:

SOILO, Andressa Nunes.  A plataformização da educação na pandemia. Contornos - Educação e Pesquisa, Porto Alegre, 2020. Disponível em: <http://www.contornospesquisa.org/2020/10/a-plataformizacao-da-educacao-na.html>. Acesso em: dia/mês/ano.