Contornos - Educação e Pesquisa: abril 2012

11 abril 2012

Pesquisa Documental: utilização e abordagens metodológicas

A pesquisa documental é um recurso metodológico ainda visto como um complemento à produção de dados na prática de pesquisa social. É comum observarmos a utilização dos documentos nas pesquisas como uma ferramenta para reforçar o entendimento, situando relatos em um contexto histórico ou como um método que possibilita comparações entre as interpretações do observador com documentos relacionados.
Entretanto, Tim May (2004) apresenta outras perspectivas que elevam a pesquisa documental como um método que possui seus próprios méritos e potencialidades ainda pouco reconhecidas.

Por que não há tantos textos dedicados à pesquisa documental como outros métodos mais conhecidos?

May aponta três possíveis respostas para esse fenômeno. Uma é a influência positivista que rejeita a utilização de dados como base para uma pesquisa, considerando-os um “empirismo grosseiro”. Também há a ideia de que a pesquisa documental remeteria à pesquisa histórica, como se estivesse distante das Ciências Sociais (e de outras áreas do conhecimento). Além disso, a pesquisa documental dificilmente é considerada como um método, pois dizer que se utilizará documentos é não dizer nada sobre como eles serão utilizados. Desenvolveremos esse “como utilizar” mais adiante.

Fontes da pesquisa documental: como definir os documentos

John Scott (1990, apud May, 2004) define os documentos, em um sentido geral, como textos escritos, tanto em papel quanto em arquivos de computador, os quais têm o conteúdo como propósito primário. Podem ser considerados para a pesquisa documental: relatórios, estatísticas oficiais, registros governamentais, discursos, conteúdo de mídia de massa, romances, peças, desenhos, mapas, documentos pessoais, diários, fotografias e uma gama de materiais.

02 abril 2012

Existe dupla negação na língua portuguesa?

Tive essa dúvida por muito tempo, pois a resposta que me davam não me convencia. A língua portuguesa é muito rica, temos uma quantidade muito maior de vocábulos e, consequentemente, de combinações e diversidade de composições do que a língua inglesa, por exemplo. Dessa forma, temos que observar que as línguas possuem diferentes estruturas e que não podem ser pensadas da mesma forma.

Um dia vi, por acaso, no canal Futura, o famoso prof. Pasquale falando justamente sobre isso. Segundo ele, essa dúvida vem de uma confusão com a estrutura da língua inglesa, que não admite a dupla negação. As línguas derivadas do latim (como o português, o espanhol e o italiano) podem sim negar duas vezes na mesma frase.

Como não consegui encontrar o vídeo dessa aula do Pasquale (era bem antigo), indico um trecho de um texto dele na Folha de São Paulo em 2009, comentando sobre uma questão do vestibular da Unicamp cujo tema seria justamente este.

Refiro-me à dupla negação ("Não há nenhuma medida..."). Não são poucas as mensagens que recebo a respeito disso ("É possível negar duas vezes?"; "Menos com menos não dá mais?"; "Se eu digo que não encontrei ninguém, isso não significa que eu encontrei alguém?").
Devagar com o andor, caro leitor. Nem pensar em fazer a tal conta. Se eu digo que não vi ninguém, isso significa que vi zero pessoa, nada, pessoa alguma, ninguenzinho mesmo.
A dupla negação como a que fazemos, que realmente não ocorre em inglês, é mais que comum em italiano, espanhol... Nossa velha frase "Não conheço ninguém", por exemplo, em espanhol corresponde a "No conozco a nadie". Em italiano, corresponde a "Non conosco nessuno". Em ambas se nota a dupla negação ("no" e "nadie", em espanhol, e "no" e "nessuno", em italiano). É isso. 

Foto por Virtual EyeSee - https://www.flickr.com/photos/virtualeyesee/