Contornos - Educação e Pesquisa: março 2023

04 março 2023

Organização para estudos na transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio


Todo início de ano letivo é o recomeço de um ciclo nas escolas, o que em muitos casos demanda a condução de um processo de organização pessoal por parte dos estudantes. Em alguns contextos escolares, como o caso da escola onde trabalho, muitos estudantes não chegam ao Ensino Médio com autonomia na organização de seus materiais e informações acadêmicas. No Novo Ensino Médio (NEM), são cerca de 15 componentes curriculares, alguns trimestrais, outros semestrais, cada qual com seus métodos e avaliações. Muitos estudantes ficam atordoados com a quantidade de informações novas e carecem de estratégias para auto regulação quanto ao que precisa ser feito.

Essa é uma questão que muito tem me preocupado e acredito ser essencial para a aprendizagem. Assim, nas turmas nas quais fiquei como responsável pelo componente de “Projeto de Vida”, iniciei o ano letivo com uma série de recursos e orientações para a organização dos estudantes para com os seus estudos e outras atividades.

Primeiramente, apresentei aos estudantes as 4 grandes áreas do conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas), os componentes que compõem cada uma e seus respectivos objetos de estudo. Na ocasião, também discutimos o que seria interdisciplinaridade. Nos itinerários do NEM, os estudantes precisam escolher as áreas de aprofundamento e também disciplinas eletivas, no entanto, grande parte desconhece o objeto de estudo das áreas, o que os confunde bastante na hora de escolher.


Em outro momento, conversamos sobre ferramentas que podem nos auxiliar na organização pessoal e para os estudos, como agendas, planners, listas e aplicativos. Nessa ocasião, surgiu a questão da alta demanda que os estudantes estão sentindo nessa nova fase (mudança do Ensino Fundamental para o Ensino Médio) e a ansiedade que essas novidades geram, além do sentimento de incapacidade e baixa autoestima. Para lidar com essa questão, trabalhamos a importância do planejamento para “tirar da mente e colocar no papel” o que foi e o que precisa ser feito, a fim de minimizar o ato de “ruminar” sobre passado e futuro. Assim, entreguei aos educandos dois modelos de planner que podem ser facilmente impressos ou reproduzidos em uma folha de papel. A ideia é que eles possam criar o hábito de anotar e conferir os compromissos, uma vez que já possuem uma grande quantidade de atividades e informações para gerenciar.

Os modelos de planner semanal e planner mensal você pode baixar aqui: https://drive.google.com/file/d/1LgJAw6DYmijGFpNuxpUg_DpC35aUUkH7/view?usp=sharing

Além dos planners que visam planejar o que vem pela frente, apresentei aos estudantes também a Planilha de Hábitos, uma ferramenta sobre a qual já comentei neste espaço e que utilizo muito na minha própria organização pessoal. Trata-se de uma lista de atividades que se quer reforçar e registrar os dias em que são realizadas, como uma “recompensa” (ver quantas coisas realizou por dia) e também para ter uma visão ampla do que se tem feito ou não e assim poder planejar estratégias posteriores. No primeiro mês, montei junto com os estudantes quais seriam as suas atividades a serem registradas e conferi semanalmente como eles estavam utilizando o recurso. A partir do segundo mês, os deixei livres para continuarem usando ou não, sempre oferecendo o modelo impresso para quem quiser. É muito legal perceber que alguns estudantes realmente aderem e percebem a importância desses registros. Outros não se interessam em continuar, o que também não tem problema, pois cada um tem seu tempo para perceber a relevância da auto organização.

Foram apresentados aos estudantes também outros recursos para organização pessoal em aplicativos e sites como o Google Agenda, Google Keep, Notion, Todoist, entre outros.

Para finalizar a unidade, trabalhamos a questão do foco e da atenção, o que muito tem preocupado professores e responsáveis, uma vez que se observa a juventude (e não só ela) bastante dispersa, inquieta, com baixíssima tolerância à espera e à frustração. Assim, fizemos uma dinâmica de leitura em conjunto do texto “Preste atenção! Neurociência explica o que você viu mas não viu”, fizemos um debate sobre o uso do celular e autodisciplina no uso de eletrônicos. Por fim, apresentei aos estudantes a estratégia da Técnica Pomodoro na tentativa de “educar” o cérebro a realizar o que a princípio pode não ser prazeroso, mas que é importante ser feito. Finalizamos com um questionário no qual os estudantes escreveram sobre onde dispensam sua atenção e que estratégias utilizam quando precisam focar.

O objetivo deste texto foi compartilhar algumas das estratégias pedagógicas utilizadas para familiarizar os estudantes com métodos de organização pessoal e provocá-los a pensar sobre como estão utilizando seu tempo e dispersando sua atenção, o que é útil não só para os estudantes, mas também para seus familiares e nós professores.

Se você já realizou algo semelhante ou tem sugestões de outras estratégias nessa temática, compartilhe conosco nos comentários. :)