Há muito tempo atrás, li um artigo que fazia uma caricatura dos tipos de revisões bibliográficas em teses e dissertações. Mexendo nos meus textos guardados, o encontrei de novo. Quando fiz o TCC e tive que fazer uma dessas, deu pra compreender bem melhor. À propósito, reler um texto é uma coisa ótima de se fazer a qualquer momento, até pra ver como as perspectivas se renovam.
O artigo é de autoria de Alda Judith Alves-Mazzotti, na época professora da Universidade Estácio de Sá (RJ). Destaca, em cada exemplo, uma categoria de um conjunto de coisas que não se devem fazer em uma revisão de literatura. É claro que, para fazer essa crítica, a autora também falou sobre a exigência do referencial teórico, para quê ele serve e suas razões de existir, além de alguns apontamentos sobre a pesquisa científica. O artigo é relativamente curto e bem escrito, vale a pena ler. Porém, por ora, quero destacar um ponto específico que no texto aparece como nota de rodapé e me pareceu uma explicação muito didática. É sobre o uso das citações literais (especialmente as longas/recuadas) na revisão de literatura:
Citações literais devem ser usadas com cautela, uma vez que, por serem extraídas de outro contexto conceitual, raramente se adequam perfeitamente ao fluxo de exposição, além de, através dessa extração, correr-se o risco de desvirtuar o pensamento do autor. É imperioso respeitar a "ecologia conceitual", indicando a que tipo de situação, preocupações e condições a afirmação se refere. Consideramos que citações literais se justificam por três situações básicas:(a) quando o autor citado foi tão feliz e acurado em sua formulação da questão que qualquer tentativa de parafraseá-la seria empobrecedora;(b) quando sua posição em relação ao tema é, além de relevante, tão idiossincrática, tão original, que o pesquisador julga conveniente expressá-la nas palavras do próprio autor, para afastar a dúvida de que a paráfrase pudesse ter traído o pensamento do autor e(c) quando, no que se refere a autores cujas ideias tiveram considerável impacto em uma dada área, se quer demonstrar que a ambiguidade de suas formulações ou ainda a inconsistência entre definições dos mesmos conceitos, quando se considera a totalidade de sua obra, foram responsáveis pela diversidade de interpretações dadas a essas afirmações (o conceito de narcisismo em Freud e o conceito de paradigma em Kuhn são exemplos desse tipo de ambiguidade) (ALVES-MAZZOTTI, 2006, p. 38)
Por isso, pode-se dizer que uma citação literal deve ser utilizada somente quando há uma justificativa plausível para você não estar escrevendo com as suas palavras. É bom ter em mente que as citações literais não devem ser usadas indiscriminadamente ou porque "tem que ter". Elas têm uma função e podem mais atrapalhar do que ajudar, se em demasia. O melhor sempre é interpretar a ideia do autor e reescrevê-la com as suas palavras, tornando o seu texto original e relevante.
Referência
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith. A revisão da bibliografia” em teses e dissertações: meus tipos inesquecíveis – o retorno, In: BIANCHETTI, Lucídio; MACHADO, Ana Maria Netto (Orgs.) A bússola do escrever – desafios e estratégias na orientação de teses e dissertações. 2 ed. Florianópolis/São Paulo: Editora da UFSC/Cortez Editora, 2006. p. 25-41.
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