Contornos - Educação e Pesquisa

04 fevereiro 2024

Como referenciar figuras e imagens (II) - Imagens geradas por IA

A citação de figuras e imagens geradas por inteligência artificial (IA) em trabalhos acadêmicos segue as mesmas diretrizes básicas de citação para qualquer outra imagem (ver Como referenciar figuras e imagens). No entanto, ainda que o comando seja executado por você, é importante reconhecer que as figuras e imagens geradas por IA são criadas por uma ferramenta específica e podem existir diferenças e particularidades entre essas ferramentas, sendo, portanto, essencial mencioná-las.

Ao utilizar essas imagens, é fundamental destacar as considerações éticas associadas ao uso de IA. Mesmo em uma apresentação de slides, o rigor deve ser o mesmo de um trabalho escrito. O quanto essa imagem é importante para o seu trabalho? A imagem “cabe” para o contexto? Há alguma imagem “real” que possa substituí-la? Estou sendo transparente quanto às informações da imagem? São algumas perguntas a se fazer quando utilizar imagens criadas por IA.


Aqui estão algumas orientações gerais para as referências de figuras ou imagens geradas por IA ou algoritmos em geral:

No título da figura:

Inclua informações sobre a descrição da imagem. Por exemplo, "Figura 2: representação de um pesquisador em trabalho de campo."


Na legenda da figura:

Inclua informações detalhadas sobre a ferramenta de IA ou o algoritmo utilizado. Por exemplo, "Fonte: gerado por [Nome da Ferramenta de IA] em dd/mm/aaaa."


No texto:

Mencione a autoria como "imagem gerada por [Nome da Ferramenta de IA]" ou "Figura gerada por algoritmo de inteligência artificial."


Exemplo:

Figura 1: Representação de uma cientista utilizando mecanismos de inteligência artificial.
.
Fonte: gerada por IA. Plataforma DALL·E 3. Em 2 de fevereiro de 2024.


Lembre-se de consultar as diretrizes de citação do estilo escolhido para garantir que você esteja seguindo todas as regras específicas dessas normas. Além disso, se a ferramenta de IA ou o algoritmo usado tiver um artigo ou documentação oficial, você pode incluir essa fonte na lista de referências para fornecer mais contexto sobre como a IA foi treinada e desenvolvida.

O uso de inteligência artificial em trabalhos acadêmicos é um tema que ainda estamos compreendendo e, por enquanto, essas indicações seguem princípios gerais de uma pesquisa científica como transparência, rigor, coerência e confiabilidade. É possível que algumas diretrizes mudem com o tempo e desenvolvimento de nossa compreensão, assim, atente à data de publicação e atualizações desta postagem. ;)

26 janeiro 2024

Infrequência escolar: rotinas e estratégias na escola

No ano de 2022 atuei como orientadora educacional de uma escola de ensino fundamental em um município de Santa Catarina e tinha como atividade diária o trabalho de prevenção e combate à infrequência escolar. O desaparecimento ou faltas alternadas de um estudante pode ser indício de situações como desinteresse, problemas de saúde, trabalho infantil, violência, maus tratos e/ou negligência, além da violação do direito à educação, por isso, o tema é sempre urgente.

Neste texto, o objetivo é apresentar de forma ampla a rotina de combate e prevenção à evasão escolar na perspectiva tanto da orientação pedagógica quanto do/a professor/a em sala de aula. Várias das informações e protocolos aqui descritos estão disponíveis no curso “Infrequência escolar e o programa APOIA do MPSC” disponível no link: Infrequência Escolar e o Programa APOIA do MPSC


Rotina da orientação pedagógica

Com a verificação da alta quantidade de faltas (mediante aviso dos professores ou averiguação no sistema), era dado início aos registros e estratégias de resgate. Primeiramente, era preciso entender o que levou o estudante a deixar de frequentar. Antes de prosseguir, é importante diferenciar os conceitos de frequência, infrequência, abandono e evasão escolar.

Frequência escolar é o modo de medir a periodicidade com que os alunos estão comparecendo à instituição de ensino. Utilizamos os dados das chamadas feitas pelos professores diariamente,

O abandono escolar é caracterizado pela infrequência, ou seja, o desaparecimento do estudante ou alta quantidade de faltas (os parâmetros costumam ser em torno de 5 faltas seguidas ou 7 alternadas sem justificativa em 30 dias). Nesse caso, o estudante falta muito ou não vem mais, porém tem matrícula no ano seguinte.

Já a evasão escolar é quando o estudante não permanece em lugar algum, sai da escola e não retorna, não se matricula mais.

Portanto, na rotina, trabalhamos no combate à infrequência, que é por onde começa o abandono e a evasão escolar. Os motivos para a infrequência são diversos e há uma grande quantidade de estudos a respeito. O MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) destaca algumas questões como as dificuldades de aprendizagem, a violência na escola (sobretudo o bullying), gravidez, trabalho, falta de transporte, entre outros. Também observei, mais recentemente, a infrequência relacionada a questões de saúde mental sem tratamento.

As configurações de cada caso são múltiplas e podem correlacionar várias questões, portanto, também demandam estratégias diferenciadas. Uma parte importante desse processo são os registros: das comunicações com os professores, das tentativas de contatos com os responsáveis, das reuniões, dos encaminhamentos realizados e outros atores da rede de proteção que foram acionados.

As formas de registros são diversas e devem fazer sentido na organização de cada profissional. Para a minha experiência, precisei usar (1) uma planilha com as comunicações dos professores e tentativas de contato com as famílias; (2) um planner para organizar as reuniões agendadas com famílias, professores e outros profissionais; (3) caderno com anotações sobre as reuniões e encaminhamentos.

(1) Modelo planner: Planner semanal e mensal  (PDF)
(2) Modelo planilha: Planilha Busca Ativa (Google Drive)
 
Caso você queira receber os arquivos por e-mail e contribuir para este site, adquira por um valor simbólico de R$3,90 no Hotmart: https://contornos.hotmart.host/material-para-processo-de-busca-ativa
 
Processo de Busca Ativa

Ao tomar conhecimento das faltas pelos professores ou por acompanhamento do sistema, era necessário registrar na planilha e iniciar as tentativas de contatos com os responsáveis. As tentativas eram múltiplas e deviam ser todas registradas. Poucas tinham sucesso, o que também é um dado muito importante. 
Quando havia reuniões com familiares, era realizada uma ata de reunião, assinada pelos presentes ao término. Dado o pouco tempo entre as atividades, na maioria das vezes as atas eram realizadas à mão em um livro de atas ou cadernos. Trata-se de uma tarefa muito difícil atender as famílias e fazer conversas complexas tendo que ao mesmo tempo secretariar e registrar a reunião, ainda que com outro colega acompanhando (o que é altamente recomendável), mas a realidade é que temos poucos materiais e muitas demandas urgentes.

Aqui em Santa Catarina, temos o programa APOIA do MPSC que une as informações sobre infrequência, os fluxos e as estratégias adotadas por cada componente da rede (escolas das redes municipais, estaduais, federais e particulares, Conselho Tutelar e Ministério Público). É por meio desse programa que a escola registra o estudante, a quantidade de faltas e os contatos e estratégias realizadas junto aos responsáveis. Caso o estudante não retorne em 7 dias após o registro, a escola deve notificar, pelo sistema, o Conselho Tutelar. Se em 14 dias após o encaminhamento o estudante ainda não retornou, o caso vai para o Ministério Público. Por meio do sistema é possível acompanhar o fluxo, adicionar documentos, atualizar dados, informar o retorno, entre outras funcionalidades.

De acordo com o MPSC, as causas mais frequentes de abandono escolar relatados no APOIA são:
  • desinteresse/ não quer retornar
  • dificuldade de aprendizagem
  • problemas familiares
  • problemas de saúde
  • mudança de endereço sem confirmação de estar estudando
  • trabalho
  • gravidez/parto recente
  • responsáveis não localizados (não se sabe o motivo do abandono escolar)

O programa contribui muito para a gestão dos dados a respeito da infrequência no estado de Santa Catarina. No entanto, como qualquer sistema dessa magnitude, precisa de capacitação para o melhor aproveitamento e aperfeiçoamento no sistema em si. Um grande desafio da rotina é fazer os atendimentos, registros e lançamentos no sistema, considerando todas as demandas diárias da orientação pedagógica.

Estratégias da equipe pedagógica

Na minha experiência como orientadora, os professores foram muito parceiros na comunicação sobre as faltas e hipóteses sobre as causas da infrequência. Frequentemente fazíamos reuniões de assessoria individual com alinhamento das comunicações sobre faltas e também conversávamos sobre os encaminhamentos feitos e os possíveis. Essa parceria é essencial para que o trabalho tenha sucesso, embora esse sucesso muitas vezes esteja longe do alcance dos profissionais.

Além do contato com os professores, o contato com a rede intersetorial é essencial para que possam ser feitos encaminhamentos assertivos e ações de prevenção. Por exemplo, é possível realizar parcerias com o CRAS e a UBS da comunidade para realização de palestras na escola e troca de ideias em equipe sobre casos mais graves. O Conselho Tutelar também é um aliado neste trabalho, além de sua atuação obrigatória na busca ativa, dependendo da relação estabelecida, pode também haver uma parceria para discussão dos casos.

Como essas relações intersetoriais são construídas e mantidas são desafios que podem ser discutidos junto à equipe da escola, no entanto, muitas vezes um e-mail, um telefone ou uma visita se apresentando já são o pontapé de uma relação. Eu costumava começar escrevendo e-mails em busca de parcerias com outros órgãos municipais e tive muito sucesso, especialmente com o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social).

Os resultados obtidos com as estratégias devem ser monitorados pelos registros (como a planilha de acompanhamento dos casos), para que se possa planejar estrategicamente quais ações foram mais eficazes para os tipos de casos.

Rotina da professora em sala de aula

Hoje estou como professora em sala e lembro da importância do contato com a orientação, procuro a orientadora ou assistente pedagógica da escola e faço registros formais quando a infrequência começa a ocorrer. É interessante fazer o registro por escrito ou por e-mail, para que todos os envolvidos estejam seguros sobre terem feito os encaminhamentos.

No contexto que trabalho atualmente (Ensino Médio), o combate à infrequência se dá de maneira diferenciada do ensino fundamental, até porque muitas vezes os estudantes são maiores de 18 anos e não mais abrangidos pelos encaminhamentos via APOIA. Assim, o trabalho dos professores é também uma prevenção diária à infrequência, com o que se pode fazer desse lugar. Os últimos anos (durante e após a pandemia) foram bastante desafiadores nesse sentido e tentei estratégias diversas para incentivar os estudantes e combater o desânimo com os os estudos (ainda que as causas para infrequência sejam diversas e mais do que uma atitude pessoal). Organizei um site com os materiais da disciplina para que os estudantes se organizassem, formei grupos de estudos com direcionamento para o ensino técnico e superior, promovi saídas pedagógicas no período noturno, chamei ex-alunos da escola para conversarem sobre a vida depois de formados, convidei palestrantes com diferentes trajetórias, e, muitas vezes, em conversas informais, estreitamos os laços que davam força para continuar.

Você já se deparou com um contexto de alta evasão escolar? Que aspectos você percebeu que podem ter influenciado a desistência dos estudantes naquele ano letivo? No papel de professor, que tipos de ações você proporia para prevenir a evasão escolar?

Sugestões de material complementar

Rita de Cássia Pacheco Gonçalves. PROCESSOS PEDAGÓGICOS PARA PERMANÊNCIA E ÊXITO. Material do curso ESPECIALIZAÇÃO Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA - PROEJA_processos_pedagogicos.pdf

SANTA CATARINA (2018) - POLÍTICA DE EDUCAÇÃO, PREVENÇÃO, ATENÇÃO E ATENDIMENTO ÀS VIOLÊNCIAS NA ESCOLA - Caderno - Política de Educação, Prevenção, Atenção e Atendimento às Violências na Escola - NEPRE.pdf

Ano novo, novos textos

De uns anos para cá, a continuidade deste espaço passou a ser um desafio, pois ao mesmo tempo em que tenho aprendido muito e tenho várias questões para expor e comentar, há pouco tempo em meio às rotinas da atuação direta na educação básica. No entanto, com a explosão de conteúdos em imagens e vídeos (esses cada vez mais curtos e acelerados), fiquei motivada a produzir TEXTOS.

Assim, preparei uma série de ensaios sobre cursos, leituras e práticas que realizei nos últimos anos, buscando contribuir com um conteúdo acessível em texto para estudantes, professores e pesquisadores. Que seja um ano de muito aprendizado com tranquilidade e leveza para todos nós.

Abs,

Vanessa

04 março 2023

Organização para estudos na transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio


Todo início de ano letivo é o recomeço de um ciclo nas escolas, o que em muitos casos demanda a condução de um processo de organização pessoal por parte dos estudantes. Em alguns contextos escolares, como o caso da escola onde trabalho, muitos estudantes não chegam ao Ensino Médio com autonomia na organização de seus materiais e informações acadêmicas. No Novo Ensino Médio (NEM), são cerca de 15 componentes curriculares, alguns trimestrais, outros semestrais, cada qual com seus métodos e avaliações. Muitos estudantes ficam atordoados com a quantidade de informações novas e carecem de estratégias para auto regulação quanto ao que precisa ser feito.

Essa é uma questão que muito tem me preocupado e acredito ser essencial para a aprendizagem. Assim, nas turmas nas quais fiquei como responsável pelo componente de “Projeto de Vida”, iniciei o ano letivo com uma série de recursos e orientações para a organização dos estudantes para com os seus estudos e outras atividades.

Primeiramente, apresentei aos estudantes as 4 grandes áreas do conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas), os componentes que compõem cada uma e seus respectivos objetos de estudo. Na ocasião, também discutimos o que seria interdisciplinaridade. Nos itinerários do NEM, os estudantes precisam escolher as áreas de aprofundamento e também disciplinas eletivas, no entanto, grande parte desconhece o objeto de estudo das áreas, o que os confunde bastante na hora de escolher.


Em outro momento, conversamos sobre ferramentas que podem nos auxiliar na organização pessoal e para os estudos, como agendas, planners, listas e aplicativos. Nessa ocasião, surgiu a questão da alta demanda que os estudantes estão sentindo nessa nova fase (mudança do Ensino Fundamental para o Ensino Médio) e a ansiedade que essas novidades geram, além do sentimento de incapacidade e baixa autoestima. Para lidar com essa questão, trabalhamos a importância do planejamento para “tirar da mente e colocar no papel” o que foi e o que precisa ser feito, a fim de minimizar o ato de “ruminar” sobre passado e futuro. Assim, entreguei aos educandos dois modelos de planner que podem ser facilmente impressos ou reproduzidos em uma folha de papel. A ideia é que eles possam criar o hábito de anotar e conferir os compromissos, uma vez que já possuem uma grande quantidade de atividades e informações para gerenciar.

Os modelos de planner semanal e planner mensal você pode baixar aqui: https://drive.google.com/file/d/1LgJAw6DYmijGFpNuxpUg_DpC35aUUkH7/view?usp=sharing

Além dos planners que visam planejar o que vem pela frente, apresentei aos estudantes também a Planilha de Hábitos, uma ferramenta sobre a qual já comentei neste espaço e que utilizo muito na minha própria organização pessoal. Trata-se de uma lista de atividades que se quer reforçar e registrar os dias em que são realizadas, como uma “recompensa” (ver quantas coisas realizou por dia) e também para ter uma visão ampla do que se tem feito ou não e assim poder planejar estratégias posteriores. No primeiro mês, montei junto com os estudantes quais seriam as suas atividades a serem registradas e conferi semanalmente como eles estavam utilizando o recurso. A partir do segundo mês, os deixei livres para continuarem usando ou não, sempre oferecendo o modelo impresso para quem quiser. É muito legal perceber que alguns estudantes realmente aderem e percebem a importância desses registros. Outros não se interessam em continuar, o que também não tem problema, pois cada um tem seu tempo para perceber a relevância da auto organização.

Foram apresentados aos estudantes também outros recursos para organização pessoal em aplicativos e sites como o Google Agenda, Google Keep, Notion, Todoist, entre outros.

Para finalizar a unidade, trabalhamos a questão do foco e da atenção, o que muito tem preocupado professores e responsáveis, uma vez que se observa a juventude (e não só ela) bastante dispersa, inquieta, com baixíssima tolerância à espera e à frustração. Assim, fizemos uma dinâmica de leitura em conjunto do texto “Preste atenção! Neurociência explica o que você viu mas não viu”, fizemos um debate sobre o uso do celular e autodisciplina no uso de eletrônicos. Por fim, apresentei aos estudantes a estratégia da Técnica Pomodoro na tentativa de “educar” o cérebro a realizar o que a princípio pode não ser prazeroso, mas que é importante ser feito. Finalizamos com um questionário no qual os estudantes escreveram sobre onde dispensam sua atenção e que estratégias utilizam quando precisam focar.

O objetivo deste texto foi compartilhar algumas das estratégias pedagógicas utilizadas para familiarizar os estudantes com métodos de organização pessoal e provocá-los a pensar sobre como estão utilizando seu tempo e dispersando sua atenção, o que é útil não só para os estudantes, mas também para seus familiares e nós professores.

Se você já realizou algo semelhante ou tem sugestões de outras estratégias nessa temática, compartilhe conosco nos comentários. :)