Contornos - Educação e Pesquisa: Fotografia e sociedade: questões básicas para a discussão sobre o uso de fotografias em trabalhos acadêmicos

30 maio 2017

Fotografia e sociedade: questões básicas para a discussão sobre o uso de fotografias em trabalhos acadêmicos

Imagine o mundo antes da fotografia. Para reproduzir concretamente uma imagem vista pelos olhos, era necessário realizar uma pintura ou desenho. Joseph Niepce, inventor francês, foi um dos primeiros a realizar experimentos com sucesso, ainda no final do século XVIII. Só em 1826 foi possível a primeira fotografia de fato, ainda com uma qualidade muito baixa e processo de confecção bastante trabalhoso e demorado. (1)

A primeira fotografia, produzida em 1826.
Fonte: http://dcl.umn.edu/ (Domínio público)
Por ser um evento raro na vida da maioria das pessoas da época, muitas só tiveram seu retrato produzido após a morte. É o caso das fotos post mortem, comuns no século XIX. Para nós, hoje, parece assombroso, mas na época era uma forma muito comum de obter uma última lembrança de um ente querido falecido, além de ser um dos raros momentos em que se conseguia reunir toda a família. Eram muito comuns também as fotos post mortem de crianças, devido à alta mortalidade infantil da época. (2)

A fotografia, apesar de inicialmente só ser acessível a famílias de grande poder aquisitivo, pouco a pouco passou a ser elemento cada vez mais importante para a história e as memórias pessoais, coletivas e institucionais, proporcionando uma forma de registrar acontecimentos e produzir patrimônio cultural para a humanidade.

Os filmes coloridos passaram a ser utilizados em larga escala a partir dos anos 1970, até o lançamento do método digital. Foi um salto muito significativo para a fotografia, pois modificou três questões importantes: (a) não há mais a dependência da quantidade de “poses” de um filme; (b) poder imprimir as fotos e não ser necessário o processo revelação, o que torna mais barata e rápida a materialização da fotografia. Além disso, (c) com a fotografia digital é possível ver a foto antes de imprimir, podendo mantê-la ou excluí-la.

Atualmente, após 180 anos do início da fotografia, a maior parte das pessoas dos centros urbanos do mundo possuem um aparelho smartphone com câmera digital, permitindo produzir inúmeras fotografias e publicá-las em seguida. À propósito, o processo de publicação e compartilhamento em redes sociais já tem substituído a impressão das fotos digitais. Está ficando cada vez mais raro que tenhamos as fotos em papel.


O primeiro selfie, por Robert Cornelius.
Fonte: https://publicdomainreview.org/collections/
robert-cornelius-self-portrait-the-first-ever-selfie-1839/ 
(Domínio público)
A tecnologia da câmera frontal nos smartphones possibilitou o avanço das fotos de si mesmo, ato mais conhecido como selfie. A palavra significa literalmente euzinho e representa a junção da tecnologia relativamente acessível da câmera frontal nos celulares e tabletes com a tendência à exibição de egos típica de uma sociedade competitiva e que valoriza muito as aparências. Segundo a revista Galileu, o primeiro selfie da história foi atribuído ao fotógrafo Robert Cornelius, que em 1839 tirou uma foto de si mesmo. Assim, o selfie é mais antigo que a fotografia digital, porém, como processo social, é fruto da era digital no século XXI. (3)

O compartilhamento de imagens trouxe à tona questões sobre direitos que podem vir a ser violados. Nem sempre as pessoas têm ideia do alcance de uma publicação e noção sobre os malefícios que podem acarretar. Já há inclusive discussões a respeito da responsabilidade de pais sobre a exposição de fotos de seus filhos, especialmente crianças, suscitando uma reflexão sobre o direito à intimidade da criança. (4)

Sebastião Salgado, famoso fotógrafo documental brasileiro, havia afirmado em entrevista que a fotografia estava ameaçada pelos smartphones, porém tempos depois reconsiderou, dizendo que provavelmente fotografia tenha ainda um longo caminho pela frente. Segundo artigo da Folha de São Paulo (2017), a quantidade de fotos a serem tiradas em 2017 está estimada em cerca de um trilhão, sendo 85% dessas produzidas por smartphones, 10% por câmeras digitais e 5% com outros equipamentos. (5)

Imagine quantas fotos um bebê desta década terá na vida. Só hoje, quantas fotos você tirou?

As questões aqui rapidamente abordadas servirão de base para pensarmos sobre ética na pesquisa e uso de fotografias em trabalhos acadêmicos na próxima postagem. ;)
 

Referências:

(1) https://www.tecmundo.com.br/fotografia-e-design/60982-175-anos-fotografia-conheca-historia-dessa-forma-arte.htm
(2) http://www.historiadigital.org/curiosidades/35-fotos-post-mortem-feitas-apos-a-morte/
(3) http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2014/02/por-que-tiramos-e-postamos-tantos-selfies.html
(4) http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6398/Uma-reflexao-sobre-o-direito-a-intimidade-a-vida-privada-a-honra-e-a-imagem-das-pessoas-nas-redes-sociais-da-internet
(5) http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/02/1858273-mais-do-que-nunca-a-fotografia-tem-futuro-diz-sebastiao-salgado.shtml


Como citar este texto
PEREIRA, Vanessa Souza. Fotografia e sociedade: questões básicas para a discussão sobre o uso de fotografias em trabalhos acadêmicos. Contornos Educação e Pesquisa, Florianópolis, 2017. Disponível em: <http://www.contornospesquisa.org/2017/05/a-fotografia-e-seus-impactos-na.html>. Acesso em: dia/mês/ano.

1 comentário:

  1. Super legal essa materia, interessante entender esses impactos que as fotos são capazes de fazer!

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